O Partido Socialista ganhou folgadamente em número
de câmaras, tornou-se, assim, o poder autárquico dominante.
Mas a lista de perdas que sofreu não pode ser
ignorada, principalmente porque essas perdas sublinham os limites que
condicionam o acesso desse partido ao poder e a sua capacidade de mobilizar os
cidadãos para as soluções de que o país precisa urgentemente.
Apesar de ter sido o partido mais votado, o PS perdeu
muitos eleitores e não conseguiu atingir um limiar expressivo que prenuncie uma
futura maioria absoluta em eleições legislativas.
Perdeu seis capitais de distrito de norte a sul: Porto,
Braga, Guarda, Faro, Évora e Beja.
No Alentejo ajoelhou-se perante o PC e esta é a
sua derrota mais significativa, porque colide com a perspectiva de um futuro
entendimento de governo.
Pode-se falar de vitória retumbante do PS? Claro
que não, a única retumbância foi a vitória do António Costa em Lisboa.
Estas não foram propriamente umas eleições “autárquicas”.
O que é que tivemos nas televisões durante mais de um mês de campanha eleitoral?
Ouvimos, todos os dias, os líderes nacionais dos partidos a falarem do défice, do
2º resgate, dos cortes nas pensões, da troika, nada que tivesse a ver com
questões autárquicas.
Não houve
debates sobre o desenvolvimento local e regional, sobre o papel das autarquias,
sobre a reforma da administração regional e local, sobre problemas territoriais,
em particular o envelhecimento e desertificação do interior e a qualidade de
vida nas cidades.
O voto dos cidadãos foi determinado principalmente
pela avaliação que cada eleitor fez acerca da situação política nacional e do
desempenho da coligação governamental e do seu primeiro-ministro.
Num país de democracia normal, a derrota estrondosa
da coligação governamental só poderia ter uma consequência: a demissão do
governo. Isso não aconteceu, nem vai acontecer e, deste modo, aproximamo-nos
cada vez mais do inelutável abismo de mais um resgate troikista e de muitos e
muitos mais anos de austeridade e de pobreza.
Não haverá eleições antecipadas pelas razões que
foram invocadas no Verão pelo Presidente da República. Mas, principalmente
porque, dentro da coligação que governa actualmente, ninguém vai contestar o
governo. Qualquer contestação vinda desses lados seria suicidária.
Do mesmo modo, o líder do PS, seguindo o conselho
do Marcelo R. de Sousa, vai fazer de morto.
Vai fazer de morto porquê? As razões são muitas,
vejamos alguns exemplos.
O PS não tem nem programa, nem políticos
qualificados, nem credibilidade para
tirar o país do abismo da crise.
O PS, com a actual direcção, não conseguirá obter
uma maioria absoluta. Na melhor das hipóteses talvez se aproxime vagamente das
maiorias pirrónicas de Guterres.
Sem maioria absoluta, quais as alianças que lhe
restam?
Com partidos da actual coligação, que acabou de
ser estrondosamente derrotada e que, aos olhos da opinião pública, é vista cada
vez mais como um pária político?
Ou com o PC, que é o único partido que ganhou em
todos os quadrantes destas eleições, ou seja, obteve mais câmaras, mais
mandatos, mais eleitores?
Em democracia normal, tantos anos depois do fim do
PREC e da guerra fria, seria esta a alternativa óbvia.
Infelizmente, passarão ainda muitos anos até que
socialistas e comunistas fumem o cachimbo da paz.
Entretanto, continuará a guerra de trincheiras.
Uma guerra que, como todas as guerras, e mesmo que esta seja apenas de palavras, não
deixa de ser criminosa.
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