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quarta-feira, 10 de julho de 2013

O GOLPE DO CAVACO


Há muito tempo que não me lembro de estar embasbacado a olhar o Cavaco a discursar na tv. Mas, desta vez, estava com uma espécie de pressentimento e lá acabei por me sentar com toda a atenção, quase obediente, em frente ao écran.

Tivemos quase duas semanas ou mais, já não me lembro bem, de telenovela política com o Gaspar a demitir-se, a Maria Luís professora do Passos a tomar posse no dia seguinte e, uma hora antes dela tomar conta do lugar em Belém, o Portas a seguir o exemplo do Gaspar. Portas, irrevogável, assim é que é. É d’homem.

Tudo pura farsa. Tivemos direito nas horas seguintes a cenas patéticas, patéticas e palacianas e o inesperado entendimento entre os dois jovens chefes políticos que têm andado a destruir o país.

Acabaram por se entender os dois chefes, fabricaram entre eles uma redistribuição de poderes e de papéis. Na sexta-feira estavam muito contentes e, para sublinhar o seu contentamento, apareceram lado a lado. O mundo sorria-lhes, só faltava um pequeno pormenor, a rubrica do patrão, o Doutor Cavaco

E assim chegou quarta-feira, foi há duas horas, a hora do Cavaco.

Confesso, fiquei impressionado, o homem revelou-se mestre de suspense, não sei se gosta de cinema, talvez tenha arranjado um novo conselheiro.

O que proclamou é totalmente inesperado, deixou os chamados partidos do arco da governabilidade completamente à nora, sem bússola, sem norte, demoraram imenso tempo a abrir a boca e quando a abriram não disseram nada.

Em que ficamos quanto ao “compromisso de salvação nacional” que o Cavaco, impôs aos tais partidos?

Em primeiro lugar, o governo recauchutado pelo Passos e pelo Portas entra para história das anedotas políticas. È finito. O que é mais provável é que, por algum tempo ainda, não vai ser muito, continuará a existir um governo PSD/CDS com todos os seus ministros sobreviventes. Mas será apenas um governo de gestão.

Secundo, entre Julho de 2013 e Junho de 2014, várias coisas podem acontecer.

O governo de gestão decidido hoje pelo Cavaco não consegue aguentar-se, à sua base de apoio social, partidária e parlamentar acontece-lhe o efeito da pele de chagrém, diminui, diminui, desaparece, morre.

E, quando a pele de chagrém chegar ao fim, o que é que teremos? Apesar de todos os argumentos esgrimidos pelo Cavaco contra as eleições antecipadas em Setembro e a favor das ditas cujas eleições em Junho, ele vai ter rapidamente que nomear aquilo que sempre recusou e que agora, depois do seu discurso à nação, está já em rampa de lançamento, em contagem decrescente como os foguetões: um governo de iniciativa presidencial, com mandato até Junho e com o apoio dos tais partidos do tal arco.

Solução à italiana, quem é o Berlusconi a abater? Adivinhem.

 O Cavaco salva a face, retoma a iniciativa  e o poder presidenciais,  a troika não tem outro remédio, apoia o nosso homem.

Já está tudo preparado no discurso do Cavaco. Para que é que serve aquele misterioso “mediador” que ele se propõe designar para impor o tal “compromisso de salvação nacional” aos três partidos?

Esse mediador será o próximo primeiro-ministro de um governo de iniciativa presidencial, governo ao qual competirá consumar nos próximos meses todas as tropelias impostas pela troika. Tropelias, desmandos, cortes, austeridade, que actualmente nenhum partido dito governamental tem coragem de fazer sozinho ou acompanhado. Gaspar dixit.

Em Junho de 2014 logo se verão os resultados. Nessa altura, o Cavaco decidirá sobre as eleições antecipadas, com o beneplácito da troika, ça va de soi.

Os políticos e os comentadores, jornalistas e esse pessoal todo das tertúlias do grande pensamento político nacional, toda essa gente foi apanhada em cuecas pelo nosso distinto presidente. Vão levar tempo a compreender o que lhes aconteceu.

Volta Gil Vicente, estás mais do que perdoado, não fizeste mal a ninguém, a não ser aos poderosos. Meu caro, és mais do que um profeta, não nos abandones. Ajuda-nos a manter inteligência suficiente para que sejamos capazes de sorrir por entre as desgraças.

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