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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

POPULISMOS


Em 1848, Karl Marx constatava de forma lapidar no “Manifesto Comunista” que “um espectro assombra a Europa: o espectro do comunismo”.

Durante mais de um século, o capitalismo europeu viveu realmente esse pesadelo do comunismo. Entretanto, o fantasma evaporou-se, passou a quimera datada, paz à sua alma.

Nos escombros do comunismo e da cortina de ferro e da utopia europeísta de Bruxelas, um novo espectro assombra agora a Europa. É o espectro do populismo.

Este novo fantasma tornou-se um bode expiatório ideal, que concita as mais prementes preces de todos os crentes da religião europeísta e anima o proselitismo folclórico do federalismo europeu de obediência germânica. Em suma, o populismo é o mau da fita que, à falta de outros argumentos, sustenta toda aquela massa de crentes que querem “salvar” a Europa. Salvar a Europa? Qual Europa? A do euro, a Europa da nomenklatura de Bruxelas? Não haverá outras Europas, dignas de serem defendidas ou, se preferirem, salvas?

Teresa de Sousa, jornalista do “Público”, é uma convicta federalista que há anos vem defendendo as suas teses com sentido de missão, ou a Europa ou o caos. Opiniões muito respeitáveis. No seu comentário de hoje sobre a necessidade de uma “nova dimensão europeia da política” refere os “três males que mais afligem” as democracias europeias: o populismo, a corrupção e a “percepção da iniquidade que fere a legitimidade dos governos para pedirem sacrifícios”. Muito interessante.

É a Europa do nó górdio, não é? Como combater a corrupção e a iniquidade? Como fazer reconhecer a tal Europa federativa como uma entidade legítima aos olhos da grande maioria dos diferentes povos e nações do velho continente?

Democracia, democracia-cristã, socialismo, comunismo, populismo ou fascismo?

Discutamos, pois, não vejo nenhum inconveniente nisso, a chamada política “europeia” no seu sentido e projecto mais amplo e inteligível que seria o de haver realmente uma democracia europeia em que o povo é quem mais ordena. Existe, poderá existir tal coisa?

Temos a Comissão de Bruxelas e o Banco Central Europeu, temos o Parlamento Europeu, temos o governo alemão e os seus aliados holandeses, finlandeses, austríacos and so on. Temos, do outro lado da barricada, os povos do sul europeu, incluindo os franceses, espoliados pelo aparelho financeiro neo-fascista que domina a tal dita Europa de Bruxelas.

O que é que os federalistas europeístas têm para oferecer aos povos, às pessoas, às famílias vítimas da rapina do neo-fascismo capitalista europeu?

Democracia? Que democracia?

Democracia democrata-cristã, democracia socialista?

Por que não pôr no outro lado da balança deste balanço das vias para a democracia a democracia do povo pelo povo, contra as elites auto entronizadas graças aos aparelhos partidários?

Elites que usam o seu poder para roubar o povo, gente que esmaga e desrespeita com suprema arrogância os direitos, o pão e a dignidade de quem trabalha.

Democracia contra as elites usurpadoras, donc, democracia que, por ser do povo contra os poderes tirânicos e ilegítimos de quem faz seu o poder que seria suposto ser meramente representativo, tem que ser designada de democracia “populista”. Forma de democracia que apenas está prevista, em modo de espectro virtual, na engrenagem infernal europeísta enquanto bode expiatório das lágrimas de crocodilo dos burocratas e políticos que querem “salvar” a Europa.

Democracia, cujo “populismo” exprime a legitimidade dos direitos de cada nação defender a sua identidade e a sua soberania contra a invasão e a prepotência das potências europeias dominantes.

Se esta fosse a democracia dos federalistas, talvez nos pudéssemos entender.

Mas, vendo bem as coisas, serenamente, a realidade é bem diferente.

A Europa, na sua versão de união germânico-europeia é uma construção totalitária sem futuro, corroída que está pela corrupção, pela iniquidade e pela prepotência do fascismo financeiro. Essa Europa terá o mesmo destino da união soviética, é tudo uma questão de tempo, de calendário.

Em democracia, o povo é quem mais ordena. Sejamos então populistas, cortemos o nó górdio da ditadura europeia que nos asfixia.

Glosando o Viegas, talvez seja caso de ripostar aos burocratas de Bruxelas, aos técnicos da Troika, aos banqueiros do BCE, aos ministros da chancelaria germânica, a toda essa gente: “vão mas é tomar no cú”.

Em consequência do que, muito provavelmente, a única via para a tal democracia europeia que respeite povos, nações e trabalhadores, gente nova e gente mais velha será uma democracia de tipo populista. Vale a pena pensar nisso.

             

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