Em
1848, Karl Marx constatava de forma lapidar no “Manifesto Comunista” que “um
espectro assombra a Europa: o espectro do comunismo”.
Durante
mais de um século, o capitalismo europeu viveu realmente esse pesadelo do
comunismo. Entretanto, o fantasma evaporou-se, passou a quimera datada, paz à
sua alma.
Nos escombros
do comunismo e da cortina de ferro e da utopia europeísta de Bruxelas, um novo
espectro assombra agora a Europa. É o espectro do populismo.
Este
novo fantasma tornou-se um bode expiatório ideal, que concita as mais prementes
preces de todos os crentes da religião europeísta e anima o proselitismo folclórico
do federalismo europeu de obediência germânica. Em suma, o populismo é o mau da
fita que, à falta de outros argumentos, sustenta toda aquela massa de crentes
que querem “salvar” a Europa. Salvar a Europa? Qual Europa? A do euro, a Europa
da nomenklatura de Bruxelas? Não haverá outras Europas, dignas de serem
defendidas ou, se preferirem, salvas?
Teresa
de Sousa, jornalista do “Público”, é uma convicta federalista que há anos vem
defendendo as suas teses com sentido de missão, ou a Europa ou o caos. Opiniões
muito respeitáveis. No seu comentário de hoje sobre a necessidade de uma “nova
dimensão europeia da política” refere os “três males que mais afligem” as democracias
europeias: o populismo, a corrupção e a “percepção da iniquidade que fere a legitimidade
dos governos para pedirem sacrifícios”. Muito interessante.
É a
Europa do nó górdio, não é? Como combater a corrupção e a iniquidade? Como
fazer reconhecer a tal Europa federativa como uma entidade legítima aos olhos
da grande maioria dos diferentes povos e nações do velho continente?
Democracia,
democracia-cristã, socialismo, comunismo, populismo ou fascismo?
Discutamos,
pois, não vejo nenhum inconveniente nisso, a chamada política “europeia” no seu
sentido e projecto mais amplo e inteligível que seria o de haver realmente uma
democracia europeia em que o povo é quem mais ordena. Existe, poderá existir
tal coisa?
Temos
a Comissão de Bruxelas e o Banco Central Europeu, temos o Parlamento Europeu,
temos o governo alemão e os seus aliados holandeses, finlandeses, austríacos
and so on. Temos, do outro lado da barricada, os povos do sul europeu, incluindo
os franceses, espoliados pelo aparelho financeiro neo-fascista que domina a tal
dita Europa de Bruxelas.
O que
é que os federalistas europeístas têm para oferecer aos povos, às pessoas, às
famílias vítimas da rapina do neo-fascismo capitalista europeu?
Democracia?
Que democracia?
Democracia
democrata-cristã, democracia socialista?
Por
que não pôr no outro lado da balança deste balanço das vias para a democracia a
democracia do povo pelo povo, contra as elites auto entronizadas graças aos
aparelhos partidários?
Elites
que usam o seu poder para roubar o povo, gente que esmaga e desrespeita com
suprema arrogância os direitos, o pão e a dignidade de quem trabalha.
Democracia
contra as elites usurpadoras, donc, democracia que, por ser do povo contra os
poderes tirânicos e ilegítimos de quem faz seu o poder que seria suposto ser meramente
representativo, tem que ser designada de democracia “populista”. Forma de democracia
que apenas está prevista, em modo de espectro virtual, na engrenagem infernal
europeísta enquanto bode expiatório das lágrimas de crocodilo dos burocratas e
políticos que querem “salvar” a Europa.
Democracia,
cujo “populismo” exprime a legitimidade dos direitos de cada nação defender a
sua identidade e a sua soberania contra a invasão e a prepotência das potências
europeias dominantes.
Se
esta fosse a democracia dos federalistas, talvez nos pudéssemos entender.
Mas, vendo
bem as coisas, serenamente, a realidade é bem diferente.
A
Europa, na sua versão de união germânico-europeia é uma construção totalitária
sem futuro, corroída que está pela corrupção, pela iniquidade e pela
prepotência do fascismo financeiro. Essa Europa terá o mesmo destino da união
soviética, é tudo uma questão de tempo, de calendário.
Em
democracia, o povo é quem mais ordena. Sejamos então populistas, cortemos o nó
górdio da ditadura europeia que nos asfixia.
Glosando
o Viegas, talvez seja caso de ripostar aos burocratas de Bruxelas, aos técnicos
da Troika, aos banqueiros do BCE, aos ministros da chancelaria germânica, a toda
essa gente: “vão mas é tomar no cú”.
Em
consequência do que, muito provavelmente, a única via para a tal democracia
europeia que respeite povos, nações e trabalhadores, gente nova e gente mais
velha será uma democracia de tipo populista. Vale a pena pensar nisso.
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