Portugal é um país sob ocupação estrangeira.
Todos sabemos isso, mas fazemos por disfarçar.
Sentimo-nos portugueses quando Portugal joga contra a Alemanha ou contra a
Holanda ou contra a Espanha. Nessas alturas somos patrióticos de verdade. A
razão é simples, a única coisa que preocupa os portugueses é e sempre foi desde
há muitas décadas o futebol. De que falam os portugueses quando se encontram no
café ou no emprego ou estão em família? Falam de futebol.
Não falam dos enfermeiros que estão a ser pagos a
menos de 4 euros por hora por empresas privadas que alugam os seus serviços ao
Estado. A qualidade dos serviços médicos não parece preocupar muito os
portugueses. E quanto a solidariedade contra as injustiças estamos falados.
Fé em Deus e bola prá frente.
Os portugueses não falam dos mais de 16% de desempregados,
mais de um milhão. Deus é grande, a Igreja dará de comer a quem tem fome.
Não falam dos cortes dos salários e dos subsídios
da função pública e dos reformados. Não falam dos milhares de professores que
estão no desemprego e que não entram para o quadro, não falam das parcerias
público-privadas e dos contratos ruinosos que essa gente impôs ao Estado para
que eles possam ter lucros fabulosos.
A triste realidade é que os portugueses são um
povo de parvos, gente egoísta e ignorante que só se manifesta quando lhe põem camiões
pesados a passar ao pé da porta ou lhe tiram o centro de saúde. O lema dos
portugueses é Deus por todos e cada um por si. O resto que se lixe.
O bom povo português preocupa-se com o futebol e confia
nos seus governantes, confia no Passos Coelho, no Gaspar, no Relvas, no Portas
e nessa troupe toda. Sempre foi assim, por que razão é que as coisas haviam de
mudar?
Quando entrámos para a CEE, o grupo mais cínico
dos nossos intelectuais apoiou fervorosamente a ideia, pôs-se inteiramente ao
dispor da Europa Connosco do Dr. Soares. O argumento deles era completamente
honesto. Diziam esses senhores, Portugal não tem governantes capazes, nunca
teve, entremos então para a CEE, os tipos de Bruxelas hão-de pôs isto tudo na
ordem, só temos de fazer o que eles mandarem. Além disso, vão-nos oferecer
muito dinheiro, a gente moderniza-se rapidamente, passamos a país rico.
Foi assim que tudo começou.
Entrámos, vieram os fundos estruturais, foi um
regabofe para muita gente, jeeps de alta cilindrada, casas, palacetes, cursos
de formação fantasmas, tudo isto com uma contrapartida. Para a CEE, Portugal
devia abrir-se ao grande espaço de comércio comum, mas não devia fazer
concorrência desleal. Recebia dinheirinho fresco, mas, em troca fechava a
agricultura, as pescas e a indústria. Portugal devia limitar-se a ser um país
de obedientes consumidores.
Não vale a pena fazer a história disto tudo, ela é
sobejamente conhecida. Falemos antes do presente.
Somos um país ocupado e não vejo como é que vamos
sair disso.
As nossas elites políticas são cada vez mais
medíocres. Nos últimos anos chegou a vez da geração dos jotas. São eles que nos
governam. O primeiro-ministro é jota, os seus braços-direitos no partido e no
governo e muitos outros à sua volta são jotas. O primeiro-ministro anterior
também era jota assim como os seus assessores e ajudantes. Quem são estes
jotas? São uns tipos que não estudaram ou estudaram pouco, que enfileiraram nos
aparelhos partidários para ter emprego e subir na vida e que, quando chegaram
aos 40 anos, perceberam que tinham que arranjar um canudo de dr. Desse por onde
desse.
É essa gente que, desde o Sócrates, tem governado
e vai continuar a governar este país. Não sabem nada de nada, não têm ideias
próprias, não têm experiência de vida, não conhecem o país, tecnicamente são
totalmente incompetentes.
Participam em reuniões internacionais, ouvem e
calam, recebem ordens e obedecem. São mais provincianos do que o doutor Salazar
que nunca saiu do país, a não ser para ir à fronteira encontrar-se com o
general Franco. Não compreendem, nunca estudaram seriamente o que mundo em que
vivem, não têm sequer um esboço de algumas ideias para defender os interesses
do mais antigo país da Europa, um país com quase 900 anos.
A União Soviética Europeia que nos ocupa
multiplica as cimeiras e, a cada cimeira, parece ter descoberto a pólvora. No
dia seguinte, grande foguetório na comunicação social, as bolsas dão um ar da
sua graça. Estas euforias têm vida curta, já estamos habituados, tudo volta ao
mesmo, dito de maneira mais acertada, tudo fica pior.
Na última cimeira, parecia que a Alemanha tinha
cedido à pressão dos franceses, dos italianos e dos espanhóis. Pura ilusão. A
Alemanha conseguiu impor o seu pacto orçamental a toda a gente, inclusive ao francês
Hollande, que andou durante meses a dizer que queria renegociar o dito pacto
germânico. Na prática, italianos e espanhóis não conseguiram nada do que
queriam, vão ter que apertar ainda mais o cinto, vão ter que se submeter à
vontade germânica. E, quanto à Grécia, não vale a pena falar, a Grécia já
passou à história, bye-bye euro.
Servir-nos-á tudo isto de consolação? De algum
modo sim.
Temos um governo de gente falhada, ignorante,
provinciana e vendida aos bancos e aos grupos das PPP, vamos ter que emagrecer,
empobrecer, desaparecer, emigrar.
Venham então os alemães, talvez eles consigam
endireitar o país. Até lhe podemos alugar isto tudo, se bem que já não haja muito
para alugar, a não ser as auto-estradas.
Depois, logo se verá. Talvez guerrilha contra os
ocupantes, sabe-se lá! Mas, por enquanto, no espírito do bom povo português, tudo
está em ordem, o povo é paciente, Passos Coelho dixit. O futebol é quem mais
ordena.
Sem comentários:
Enviar um comentário