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quinta-feira, 12 de abril de 2012

DITADURAS DEMOCRÁTICAS

O ano de todas as crises anunciadas, implícitas ou escondidas, este ano de 2012, eis o ano de todas as vigarices, de todas as cobardias e trafulhices políticas.


Segundo alguns chefes da UE, a crise do euro, a crise europeia, a dívida soberana, os défices, tudo isso está em vias de ser resolvido.


Os franceses têm estado na primeira linha desse tipo de mensagens. Não é para admirar, é que no dia 6 de Maio, o Sarkozy terá o destino carimbado e, até a essa data fatídica, vai recorrendo às velhas técnicas de intoxicação.


As bolsas até reagiram bem, os juros das dívidas italiana, portuguesa, espanhola e mesmo grega começaram a baixar. Sol de pouca dura.


Passadas cerca de duas semanas, a Itália mergulha, a Espanha é obrigada a aprovar todos os dias novos cortes na despesa, corta na saúde e na educação, vai acrescentando uns milhares de milhões à austeridade, os juros dos empréstimo vão subindo. Mas, o Mariano jura que não vai pedir ajuda externa.


Velha história que nós já conhecemos. A Espanha está a chegar ao ponto de rebuçado, àquele ponto fixado pelo saudoso ministro das finanças Teixeira dos Santos quando, em Novembro de 2010, afirmou que, se Portugal chegasse aos 7% de juros, não tínhamos outra alternativa, tínhamos mesmo que pedir ajuda externa.


O resto da história é conhecido. O Sócrates, na sua inesgotável energia de vendedor de banha da cobra, todos os dias vinha à televisão anunciar novos projectos, novas medidas para um Portugal próspero e moderno.


Na sua douta opinião, Portugal tinha um futuro risonho pela frente. E, pateticamente, o velho Sócrates insistia em jurar a pés juntos que nunca iria pedir ajuda externa.


Os psicólogos talvez possam associar esta socrática esquizofrenia de triste memória ao síndroma de denegação da realidade, que é uma forma de patologia muito conhecida que afecta principalmente os ditadores que se preparam para se despedir da cena política.


Um desses ditadores está agora em cena em Portugal.


Não tem o descaramento nem a hiperactividade do Sócrates.


É um tipo que age pela calada, é um político completamente sem escrúpulos.


Comparando as tropelias que este Coelho tem cometido ultimamente com as do Sócrates, quase sou tentado a ter simpatia pelo Sócrates. Ao que nós chegámos!


São dois políticos diferentes mas, no essencial, têm muitas coisas em comum.


São da mesma geração, são da mesma escola, que é a escola dos jotas partidários que não estudaram, gente pouco informada e muito inculta, gente que obteve diplomas em universidades de vão de escada.


O Sócrates dizia que estava tudo sob controle, o país estava no bom caminho. Mentia com todos os dentes. O Coelho vai pelo mesmo caminho.


O Sócrates dizia que não era preciso ajuda estrangeira, o Coelho continua a garantir que não vai pedir mais dinheiro e jura pela alma da mãe dele que em Setembro de 2013 acabou-se a troika e vamos de peito feito para os mercados.


Vejamos então as realidades.


O Sócrates prometeu que Portugal não ia estender a mão à caridade capitalista internacional. A fanfarronice durou poucos meses e, já de malas aviadas, assinou o protocolo de submissão à troika. Atraiçoou, vendeu o país e, ou porque se queria fazer esquecer ou porque tinha a ridícula ambição de imitar o Mário Soares, refugiou-se em Paris.


O Coelho tem andado, desde que tomou posse, a repetir de maneira cansativa para os meus ouvidos, que não ia pedir mais dinheiro à velha troika e que tudo estaria resolvido, o mais tardar, até Setembro de 2013.


Mas, de repente, 2013 deixou de ser 2013. De acordo com os últimos discursos deste tipo que é primeiro-ministro de Portugal, 2013 passou a ser 2015. Para ser mais exacto, será 2015 se isso lhe permitir ganhar as eleições.


O problema do Coelho é que da sua cartola não vai conseguir tirar o milagre de chegar a esse ano de 2015 como grande salvador da pátria.


Grande cara de pau, grande vigarista, grande mentiroso – ò Coelho podes-me processar – o Coelho não tem a estaleca do Salazar, não vai conseguir resolver toda esta grande embrulhada a tempo de se apresentar diante do povo como grande salvador da pátria.


O homem tornou-se mais ousado, provavelmente cansou-se de todas as mentiras que nos tem andado a impingir. Já não garante que voltem os subsídios de férias e do Natal e suspendeu - a expressão é dele – as reformas antecipadas.


Sem consultar ninguém, sem consultar os sindicatos, depois de ter instituído há quinze dias os despedimentos selvagens, o homem acabou com mais um direito, que é o direito à reforma, um direito individual conquistado com muitas lutas, um direito consagrado na constituição da república, um direito inalienável.


Mas que raio de república é esta que suporta esta espécie de primeiro-ministro cujo programa político consiste em destruir todo um património de direitos sociais, um património de direitos que protegem a vida, o emprego, a reforma, a estabilidade e o destino de milhões de pessoas, de famílias, de gente que tem direito a viver até ao fim a sua vida com dignidade?


Este homem soi-disant, este homem é o primeiro-ministro de Portugal, eleito pela maioria dos portugueses.


Parabéns aos eleitores portugueses que souberam usufruir dos privilégios e do poder que lhes são conferidos pelas maiorias democráticas. Obrigado, podem limpar as mãos à parede!





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