PEDALAR É PRECISO!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

KRUGMAN NA LISBOA UNIVERSITÁRIA PACÓVIA




Há um tipo que veio ontem a Portugal, o homem é prémio Nobel da economia e em Lisboa recebeu uma tripla condecoração, a de doutor honoris causa, condecoração atribuída por três universidades de Lisboa, a clássica (que, aliás, não tem faculdade de economia), a técnica e a nova.


Estavam todos babados os doutores catedráticos dessas três faustosas universidades. Até lá estava no meio daquele pagode, completamente radiante no seu fato folclórico de doutor, aquele tipo o Braga de Macedo de triste memória que, se ainda se lembram, proclamou que Portugal era um oásis, isto no tempo do Prof. Cavaco primeiro-ministro.


Este Braga de Macedo e a maioria de todos os que lá estavam na cerimónia são da escola neo-liberal, diria mais, são apóstolos confessos desse criminoso credo que deu cabo, desde os tempos frenéticos dos boys de Chicago e do seu padrinho, o mentiroso e conspirador confesso, Richard Nixon, que deu cabo de vários países, o primeiro dos quais foi o Chile do Pinochet e um dos últimos foi a Argentina que, aliás, ainda não está inteiramente livre das retorsões e ameaças de várias altas instituições do capitalismo.


Este grupo de neo-liberais confessos que não posso designar de criminosos porque ainda foram presentes diante dum tribunal competente para os julgar por todos os crimes que há duas ou três décadas, mais coisa menos coisa, têm andado a praticar neste país de gente que se baba facilmente perante um prémio Nobel qualquer, este grupo tem como actividade desportiva preferida exibir-se em toda a sua provinciana glória diante da televisão e dos jornalistas e tem como actividade principal retirar proveitos chorudos dos conselhos de administração, dos conselhos gerais, das comissões para isto e para aquilo onde é suposto tomarem decisões que promovam o bem-estar e o progresso do país.


Essa gente é uma quadrilha.


Essa gente trouxe cá o Krugman que lá na terra dele passa por um perigoso esquerdista. Trouxe-o para que este tipo venha dizer aos jornais e às televisões que Portugal não é a Grécia, Portugal é um país porreiro, já cá esteve em 1976, ele conhece isto bem. Portugal não vai sair do euro, as probabilidades para que tal aconteça são de 25%.


Mas Portugal, insistiu o prémio Nobel, Portugal vai ter que cortar nos salários.


Ò Krugman, parece que és um grande economista e vens, do alto da tua autoridade, dizer aqui a este país que tem os salários mais baixos da Europa, salários que são mais baixos do que os da Grécia, a este país das parcerias público-privadas, que servem para garantir que os lucros são para os privados e os prejuízos para o Estado, a este país onde os bancos praticamente não pagam impostos e que, em troca, recebem do Estado altíssimas prebendas, ò Krugman vens para aqui dar as tuas sentenças, as tuas postas de pescada, só por que houve três universidades lisboetas que resolveram premiar-te com três doutoramentos honoris causa em simultâneo!


Vens aqui dizer em alto e bom som que Portugal tem que cortar nos salários, porque se não cortar vai ter que sair do euro!


Ò Krugman, shame on you, ò Krugman vai meter o euro num certo sítio!!!


Economistas portugueses encartados, catedráticos ou não, ignorantes quase certamente, situacionistas ou não, carreiristas, oportunistas, salteadores do bem público ou não, tenham vergonha! Precisam de mandar vir um economista americano dizer ao país o que é que o país tem que fazer para acabar com esta engrenagem de fome, desemprego,desespero e miséria?


Então, srs. maçónicos neo-liberais encartados, falta-vos a coragem?


Ilustres economistas indígenas fardados de catedráticos, na vossa cabeça haverá algum lugar por pequeno que seja onde possam imaginar, onde possam perceber o que se passa neste país, neste país de salários e de pensões miseráveis, neste país que, antes do fim do ano chegará aos dois milhões de desempregados, um quarto dos quais, na melhor das hipóteses, não terão qualquer direito a subsídio de desemprego?


Reles economistas universitários provincianos, vendidos à máquina infernal da troika, figurantes vendidos a interesses mais altos, caixote de lixo com eles.


Ò Krugman, vai vender o teu peixe para outra freguesia. Ainda nos havemos de rir à tua custa, valha-nos isso.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MARIE COLVIN (1956-2012)




Mal tinha começado o dia, quando Marie Colvin caiu para sempre sob as balas assassinas das tropas sírias, nesta quarta-feira 22 de Fevereiro de 2012. Na mesma casa, juntamente com ela, morreu também o jovem fotógrafo francês Rémi Ochlik e foram gravemente feridos outros jornalistas que ali se tinham refugiado.


O sítio onde todas estas tragédias aconteceram foi o bairro de Baba Amro, que tem sido desde há várias semanas o principal alvo da fúria sanguinária do regime alauíta de Bashar Al Assad contra a cidade rebelde de Homs.


O que tem acontecido desde há quase um ano na Síria é muito mal conhecido. Não admira. É que Al Assad impôs em redor do que considera ser sua coutada privada uma cortina de ferro, que é também uma cortina de silêncio. Ninguém entra, ninguém sai, os sons, as imagens são longínquos.


As informações que têm filtrado este silêncio imposto pelo regime fascista alauíta devemo-los à devoção e ao heroísmo, em alguns casos com o custo da própria vida, de militantes sírios que lutam pela democracia no seu país.


Até há pouco tempo, nenhum jornalista tinha conseguido entrar nesse cenário de guerra das autoridades fascistas sírias contra o seu próprio povo, nesse cenário que provavelmente excede em brutalidade e em horror tudo o que se conhece sobre outros cenários de guerra europeus. Lembremos Sarajevo.


Marie Colvin percorreu praticamente todos os cenários de horror que têm atravessado o mundo em que vivemos durante este último quarto de século, Sarajevo, Grozny, Palestina, Kosovo, Harare, Líbia, Egipto and so on. Foi em Sri Lanka que perdeu o olho esquerdo.


Marie Colvin era uma lenda do jornalismo “de guerra”, era uma heroína.


Neste momento terrível, neste momento de impotência universal para se acabar com o massacre sírio, Marie simboliza todos os jornalistas que arriscam a sua preciosa vida, “apenas” por altruísmo, por amor à verdade e à justiça, por amor ao direito à informação, por solidariedade para com todos os povos que lutam pela liberdade, contra a opressão e as ditaduras.


No seu périplo pelos cenários das lutas que percorreu durante vinte e seis anos, não pode ser esquecido que, em 1999, Marie Colvin estava em Timor-Leste para testemunhar e dar a conhecer a luta dos timorenses pela sua liberdade.


Mas não se limitou a testemunhar. No auge dos ataques das milícias pró-indonésias contra o povo timorense, ela recusou abandonar um campo onde estavam cercadas várias centenas de mulheres e de crianças. Permaneceu junto delas até ao fim porque tinha a consciência de que se as abandonasse, elas seriam inevitavelmente massacradas.


Aos cinco jornalistas executados em 16 de Outubro de 1975 em Timor-Leste por tropas indonésias, os cinco de Balibó, aos muitos jornalistas a quem Timor-Leste muito deve, espero que se acrescente o nome de Marie Colvin.


O povo sírio não a esquecerá certamente, assim como a todos quantos deram ou virão a dar a sua vida para dar a conhecer a terrível história que está a acontecer a um povo heróico, que não desiste da sua dignidade, do seu direito à liberdade, que resiste à coligação sírio-russo-chinesa, que insiste em vir para a rua até ao dia em que o Assad caia do seu pedestal assassino.




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CONFLITO DE CIVILIZAÇÕES?


Em França, o ministro do Interior, um tipo chamado Claude Guéant provocou intencionalmente, com propósitos eleitoralistas, uma grande tempestade política.


Ser ministro do interior em qualquer país não é função que recomende ninguém e em França os exemplos de que me lembro são de facto sinistros, desde o famoso Raymond Marcelin até ao actual presidente Sarkozy. Por definição, esses tipos têm como principal tarefa as chamadas basses besognes, ou seja, os trabalhos sujos, são lacaios que mandam nas polícias e perseguem os mais indefesos, os mais pobres e desgraçados.


Este tal de Guéant foi, há poucos dias, à Assembleia Nacional francesa afirmar que as civilizações não são todas equivalentes, trocado por miúdos, para este ministro a civilização ocidental é a civilização ocidental, o resto não merece sequer o nome de civilização.


Não afirmou isto por acaso, o seu patrão Sarkozy está em grandes dificuldades para se fazer reeleger como presidente, com a candidata da extrema-direita Marine Le Pen a pisar-lhe os calcanhares nas sondagens. Existe um sério risco que o parceiro preferido da Merkel alemã não consiga sequer ir à 2ª volta das eleições.


Então, o Guéant, instruído pelo seu patrão, foi caçar nos terrenos da Le Pen, que são os da supremacia francesa em relação aos imigrantes norte-africanos, africanos e outros mais ou menos muçulmanos.


Disse o que tinha a dizer e logo de seguida um deputado socialista da Martinica caiu-lhe em cima e acusou-o praticamente de ser nazi. Os ministros colegas do Guéant ficaram aparentemente lívidos, abandonaram a assembleia, parece que isso tinha acontecido pela última vez há mais de cem anos.


A esquerda persistiu, não pede desculpa ao ministro acusado, para os socialistas franceses há valores comuns em todas as civilizações. Condenam as afirmações do ministro, choque de civilizações é coisa que conduz à guerra.


É verdade que a história lhes dá razão. Mas a história é uma coisa muito complicada.


Na história da chamada civilização ocidental, em todas as épocas existiram ideologias mais ou menos dominantes e ideologias dominadas e perseguidas.


Houve a ideologia católico-apostólico-romana que durou muitos séculos, que criou a inquisição, que queimou milhões de pessoas, que perseguiu tudo e todos que cheirassem a heresia, que enviou cruzados para Jerusalém e, mais tarde, navegadores, guerreiros e missionários para “evangelizarem” os povos bárbaros e pagãos de outros continentes. Gente encarregada de impor a civilização cristã ocidental.


Houve a ideologia liberal que fundou o capitalismo, os quais duram até hoje, houve a ideologia marxista-leninista que fundou o capitalismo de estado, que ainda hoje sobrevive, pelo menos, na República Popular da China. Houve outras ideologias que, embora menores, tiveram larga repercussão e influência.


Desde a Revolução Francesa, as clivagens entre ideologias alinhavam-se por uma fronteira mais larga, de um lado a esquerda progressista, democrática, revolucionária e proletária, do outro, a direita conservadora, burguesa e exploradora.


Tivemos a queda do muro de Berlim, o fim da URSS, a globalização, a união europeia, o euro, os grandes movimentos migratórios à procura do eldorado europeu.


Agora temos a crise do euro, a recessão das principais economias europeias, a próxima bancarrota da Grécia, de Portugal, da Itália e da Espanha, o fim do euro e da velha comunidade económica europeia.


E eis que emergem em todo o seu esplendor os chamados BRICS, as potências emergentes Brasil, Rússia, China, África do Sul, quase todas antigas colónias dos impérios europeus.


Dos antigos impérios coloniais europeus emergem ainda muitos outros países prometidos a auspicioso futuro, principalmente países do Pacífico que fazem salivar os EUA em decadência e descrente dos seus velhos aliados europeus.


Temos também a chamada primavera árabe que tem vindo a arrasar os regimes árabes com mais ou menos petróleo, que durante décadas foram fiéis lacaios das potências ocidentais. Primavera árabe, islamismo, islamismo civilização inferior à civilização ocidental, acrescentará o ministro francês.


Resumindo, está muita coisa a acontecer, há demasiadas incógnitas. Então o sr. Guéant, nas pisadas da sra. Marine Le Pen, sente-se na obrigação de gabar a superioridade da civilização ocidental.


Mas o que prevalece, quando se reflecte sobre as inúmeras afirmações e reacções dos políticos europeus mais ou menos importantes, é que essa gente perdeu o controle, não sabe o que fazer, essa gente está desorientada e entrou em pânico.


O novo presidente do parlamento europeu, que tanto quanto me lembro é socialista e foi eleito há poucos dias, esse cavalheiro do alto da sua arrogância germânica veio criticar o primeiro-ministro português por ter ido a Luanda pedir aos capitalistas angolanos que invistam nas privatizações, que tragam dinheiro para Portugal. Na sua douta opinião, isso é um sintoma de declínio de Portugal.


É um discurso entaramelado, o homem nem sequer se sabe exprimir, não joga a bota com a perdigota. Mas é presidente do parlamento europeu. Sobretudo é alemão e, assim sendo, acha-se no direito de se meter onde não é chamado. Provavelmente alguém o convenceu que a Grécia tinha passado a ser governada por um comissário alemão e que, assim sendo, tinha chegado a vez de a Alemanha passar a decidir com quem é que o governo português podia falar ou fazer negócios.


Pode também ter a ver com a nostalgia alemã de nunca ter conseguido manter uma colónia muito sua em África. Bem tentaram conquistar Angola, mas apanharam tareia do Roçadas e, logo a seguir, perderam o chamado Sudoeste Africano, agora Namíbia.


Fechemos o parêntesis das agruras alemãs e voltemos ao choque de civilizações.


Quem é que tem razão? O sr. Guéant ou os socialistas franceses?


Tenho muita pena, mas tenho que me render a algumas evidências.


Primeira evidência: a velha ética capitalista industrial europeia morreu. Era o capitalismo dos patrões de indústria, um sistema dominado por gente que explorava em seu proveito a mão-de-obra e as matérias primas baratas. Mas o sistema era regulado, auto-regulava-se. Civilização ocidental na sua versão burguesa revolucionária.


Hoje estamos à mercê de um novo capitalismo, capitalismo sem regras, capitalismo amoral e selvagem de grandes engenharias, vigarices e ladroagens financeiras, capitalismo anti-social ao qual apenas interessa o lucro fácil e rápido, capitalismo para o qual a democracia é apenas um pormenor facilmente contornável através da corrupção e da manipulação dos meios de comunicação social.


Segunda evidência: é este novo modelo de capitalismo, que não é diferente do capitalismo de estado chinês ou russo, que tenderá a globalizar-se à escala mundial.


Poderemos então falar de diferenças de civilização? Haverá hoje civilizações superiores e civilizações inferiores?


Mas de que é que estamos a falar?


Podemos falar de Hitler e de Churchill, podemos falar de Torquemada e de Lutero, de Estaline e de Ghandi, de Bashar al Assad, de Mubarak, de Ben Ali, de Nelson Mandela e reconhecer facilmente onde está a superioridade civilizacional.


Podemos comparar Angela Merkel com Barack Obama, com Sílvio Berlusconi, com Nicolas Sarkozy. Podemos comparar os patrões da união europeia com os patrões dos brics. Quais são as diferenças?


Superioridades civilizacionais elas existem, mas não têm a ver com diferenças de cultura, de cor da pele, de geografia, de religião, de riqueza.


A fronteira que separa os seres humanos continua a ser a mesma de sempre: é a linha que coloca em campos opostos os que estão a favor e os que estão contra a liberdade, a justiça, a democracia, a fraternidade, a solidariedade e o direito à revolta contra a opressão.


De que lado está o sr Guéant, o seu patrão Sarkozy e os patrões da união europeia?



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

“CUSTE O QUE CUSTAR” OU A ARTE DO GOLPE DE ESTADO



As palavras ditas em público pelos políticos servem em geral apenas para ocupar silêncios incómodos ou para enganar as pessoas.


Os políticos que falam muito e não dizem nada são a grande maioria dos que se passeiam e se exibem na nossa praça. Vendem o seu produto, são como as mulheres que vendem cobertores na feira da ladra. Raramente atingem o talento dessas prestimosas comerciantes, mas lá vão falando e, ao falarem, têm a ilusão de existir.


Quantos desses seres falantes permanecem na nossa memória?
É verdade que alguns momentos importantes da nossa história contemporânea ficaram associados a frases com real significado.


Creio que foi à varanda norte do Terreiro do Paço que o Salazar, armado em Mussolini, pronunciou a célebre frase “para Angola e com força!” Frase assassina, frase entusiasticamente aplaudida pela grande maioria do bom povo português. Passados cinquenta anos, ainda estamos a sofrer as consequências desse grande entusiasmo colonialista.


No mesmo Terreiro do Paço, mas no topo sul, lembro-me também do momento em que o patusco primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo gritou em Novembro de 1975: “é só fumaça, o povo é sereno”.


Serenidade aparente.


Na manhã do dia 25 de Novembro de 1975, tive a oportunidade de ler no semanário francês Le Nouvel Observateur uma entrevista em que o major (penso que ainda não era coronel) Melo Antunes analisava a situação política e as diferentes movimentações dos sectores em confronto no auge do PREC. E concluía com uma frase que não me saiu da memória: “temos que agir já!”.


E agiu de pronto nesse mesmo dia. Tinha tudo preparado. Mandou o Otelo e o Cunhal para casa e pôs na ordem os ultras da direita que queriam fazer uma limpeza ao pessoal “revolucionário”.


Algumas palavras políticas do actual Presidente da República têm sido fonte de grande perplexidade, mas não vou perder tempo com elas.


Prefiro tentar compreender o significado do “custe o que custar” atirado como uma bala, há duas semanas, mais coisa menos coisa, pelo actual Primeiro-Ministro ao Parlamento.


Na mesma ocasião, o Ministro da Defesa também ameaçou. Ameaçou, vejam bem, as elites militares com duas afirmações extraordinárias: 1) a defesa nacional e as forças armadas não são sustentáveis sem profundas reformas; 2) quem não estiver bem, que se vá embora.


Juntemos então o “custe o que custar” com a “insustentabilidade das forças armadas” e acrescentemos a essas palavras, inocentemente coincidentes no tempo, as proclamações menos recentes do Primeiro-Ministro contra quaisquer tentativas de tumultos ou de desordens públicas.


Acrescentemos ainda a tudo isto a chamada balbúrdia dos serviços secretos que se supõe existirem para proteger o país de ameaças externas, mas que realmente consagram o essencial da sua actividade a espiar o chamado “inimigo interno” (sindicatos, cidadãos, partidos, empresas, associações…), lembremo-nos da recente actuação da polícia contra manifestantes pacíficos junto à escadaria de S. Bento.


Lembremo-nos daquela mulherzinha de Tràs-os-Montes que foi presa por causa de umas armas que pertenciam ao filho ausente em França, lembremo-nos daquele sem abrigo condenado por um tribunal por ter sido apanhado à saída dum supermercado com um polvo e outra coisa de que já não me lembro, coisas que, segundo a douta opinião do juiz, seriam para vender e comprar droga. Vale a pena continuar a lista?


O “custe o que custar” do Passos Coelho não apareceu na cena política por acaso. Não é uma palavra para preencher quaisquer silêncios, não é palavra de vendedora de cobertores. É coisa muito séria, porque ameaça o país com um golpe de estado se os cidadãos decidirem contestar convictamente e solidariamente as políticas de austeridade alegremente postas em prática pela troupe no poder.


O timing da ameaça governamental não tem qualquer mistério. Na guerra social que tem vindo impor ao país, a camarilha que nos governa neutralizou todos os eventuais adversários, a começar pelo bom povo português que se rendeu obediente e conformado à inevitabilidade da terapêutica da austeridade e às vantagens do empobrecimento dos cidadãos e das famílias em geral, com vista à redenção do país.


Neutralizou os sindicatos e, quanto à esquerda parlamentar n’en parlons pas.


O caminho para o golpe está aberto, falta ao governo apenas neutralizar as Forças Armadas. Observemos, pois, com atenção as palavras e os actos do ministro da Defesa.
Teremos, não teremos o golpe de estado, cujo nome de código é “custe o que custar”? Será que isso depende apenas das forças armadas? Desde quando é que o povo deixou de ser quem mais ordena?