PEDALAR É PRECISO!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PASTÉIS DE NATA




Felizmente, seis meses depois de ter entrado em funções, o governo da república começou a dar algumas indicações sobre o que pretende fazer para tirar o país da recessão, da austeridade e da triste companheira de cada vez mais muitos milhares de cidadãos portugueses, a velha miséria.


O Governo mostra finalmente o caminho, está em marcha um vasto programa de redenção económica e social. Aleluia!


Hoje, o ministro da economia apresentou-se nas televisões de sorriso aberto e contente consigo próprio. É que estava radioso com o acordo dito tripartido que negociou na chamada concertação social com as organizações que representam os patronatos e os sindicatos.


O acordo é fácil de resumir: governo, patrões e uma confederação sindical concordaram em aumentar o tempo de trabalho, facilitar o desemprego e reduzir os salários. Nada de novo, porém. É que este tipo de acordos há muito que se tem repetido, quer o governo seja PS ou PSD.


A condição sine qua non para que tais acordos possam ser considerados tripartidos é a de que por baixo esteja a assinatura da UGT que, como todos sabemos, é a confederação sindical que, além de emanar dos partidos do bloco central, sempre se manifestou simpaticamente deferente perante os desígnios e vontades dos patronatos.

As deferências da UGT não podem deixar de ser interpretadas como uma vergonha e traição para o sindicalismo legítimo, aquele sindicalismo histórico que tem a obrigação de estar sempre na primeira linha na luta pelos direitos de quem trabalha.


Por outras palavras, a UGT aparece nestes processos de assinaturas de acordos tripartidos como uma espécie de loja Mozart travestida em ramo das lojas maçónicas que continuam fiéis à história e aos ideais da maçonaria.


A história da UGT tem sido sempre esta, para os seus sindicatos os interesses de quem trabalha não divergem substancialmente dos interesses de quem utiliza a seu belo prazer a força de trabalho, concordam em coro com os patronatos que para criar emprego nada melhor do que flexibilizar as regras do mercado de trabalho, supostamente para fomentar a criação de emprego. Quem trabalha, quem aspira a um emprego que pague a crise, esse é o lema da UGT. Obrigado, engº João Proença!




O ministro da economia, o governo estão, pois, contentes, venceram a batalha do consenso social e, assim sendo, vão poder aumentar o tempo de trabalho, vão poder obrigar os trabalhadores a aceitar qualquer trabalho que os patrões lhes imponham, vão permitir que os patrões despeçam empregados que estão a ficar demasiado caros para as suas contas e substituí-los por outros mais de borla. Grande passo no combate à recessão e à austeridade, o governo e os seus parceiros podem estar contentes e radiosos.


No grande plano de recuperação da economia portuguesa que este governo gizou, há, porém, ainda a considerar dois outros pólos importantíssimos: a emigração dos desempregados e os pastéis de nata.


Têm sido as duas outras grandes frentes de combate do sr. Passos e companhia no épico caminho pela redenção da economia portuguesa.


Duas frentes curiosamente apoiadas por um modelo de marketing desenhado a papel químico pelo exército de assessores de S. Bento, que devem, aliás, graças aos seus méritos, ganhar chorudas e merecidas remunerações.


Essas iluminadas cabeças disseram ao primeiro-ministro, a ideia é simples, pomos um ministro a falar acerca das enormes vantagens dos jovens desempregados emigrarem para os países da CPLP, isto é a primeira fase. Passados poucos dias, o sr PM vem apoiar essa fantástica ideia e procura entusiasmar em particular os professores desempregados a oferecerem os seus préstimos aos países lusófonos. O Brasil é agora a sexta potência económica mundial, é verdade que há lá muitos professores desempregados, mas, ò sr. primeiro-ministro isto é canja, os nossos professores lá se hão-de desenrascar!


O cenário repete-se, como previsto em relação aos pastéis de nata.


Para produzir pastéis de nata, não é preciso emigrar, basta o franchising. O sr. PM quando vai a Belém, certamente que já deve ter reparado nas enormes bichas de turistas feitos parvos nos passeios à espera da esmola dum pastelinho!


O ministro Álvaro foi o primeiro a achar a ideia genial. Convém acrescentar que a imaginação do homem tem estado em trabalho permanente, precisa de dar nas vistas, senão morre como ministro, tem que apresentar soluções miraculosas. Teve a ideia das concessões de minas. O problema é que nunca mais se ouviu falar disso.


Alguém lhe soprou ao ouvido e lá foi ele à televisão, aos jornais, elogiar os famosos pastéis de nata.


O sr. Passos, seu chefe, ficou deslumbrado com a ideia e hoje, num gesto de grande cumplicidade, veio confirmar esntusiasmado o grande projecto económico do seu ministro mais problemático: não há nada melhor do que um bom pastel de nata! Comamo-los, exportemo-los, franchisemo-los, tudo isso contribuirá para que a economia portuguesa entre no bom caminho.


E, assim, nas vésperas de a Grécia entrar em falência e deixar o caminho aberto para o protagonismo de Portugal no papel de próxima vítima na roleta russa dos defaults, no jogo das especulações das agências de rating e do capitalismo criminoso internacional, o governo PC (P. Coelho), encontrou o seu rumo para a salvação nacional.


Contra a troika, contra as agências de rating, contra a Alemanha, contra Wall Street, contra a falência, marchemos, de pastel de nata na mão, rumo à Terra Prometida.


Salvar-nos-emos da bancarrota e, o mais tardar em 2050, o pastel de nata será a pizza dos países agora emergentes que passarão a mandar no mundo global.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

CUMPLICIDADES MAÇÓNICAS E NÃO SÓ


Os jornais e as televisões precisam de leitores, procuram audiências, estão no seu direito. Nas últimas semanas têm falado muito de maçonaria. Talvez tenham razão, talvez esteja em curso uma espécie de guerra entre obediências maçónicas, de cujo desfecho depende o fim da crise financeira e da depressão.


Por mim, a maçonaria é uma coisa demasiado velha, kitsch. Estou-me nas tintas para histórias de maçons com aventais, tudo isso é ridículo e patético. A única coisa que me chateia é que tenham metido ao barulho o nome do Mozart nesta história de pacóvios. Mozart é Mozart, haja respeito.


A primeira vez que ouvi falar de maçonaria, andava no liceu, foi nas Pupilas do Senhor Reitor, do Júlio Dinis, que é um escritor injustamente esquecido. As histórias de maçons já são muito antigas, há histórias para todos os gostos. Para minha memória pessoal, prefiro reter os maçons setecentistas, a gente iluminista anti-clerical, o pessoal da Enciclopédia.


Júlio Dinis descrevia um conflito numa aldeia do Minho, já não me lembro muito bem onde, um conflito, resumamos entre tradição e modernidade a propósito dos cemitérios, o que no caso significava uma espécie de guerra entre conservadores ligados á Igreja Católica e liberais estrangeirados, os chamados pedreiros-livres. Nessa época era este o nome dos maçons. Maçon igual a pedreiro, a ideia maçónica vinha de França.


Não vou perder muito tempo com a história dos pedreiros-livres portugueses. Haveria tanta coisa para dizer. Mas, en passant, não resisto a lembrar que a primeira república começou com o assassinato do rei e do príncipe herdeiro, crimes cometidos por maçons, e que essa república foi um verdadeiro desastre.


Se nos vêm agora chatear com histórias de maçons social-democratas psd ou o que é que isso queira dizer, resumamos bloco central, de pedreiros que andam por aí à solta, a minha reacção óbvia é que o problema não está em haver gente que se presta a rituais e a proclamações ridículas, vestidos de avental.


Pensando bem, tudo isso, que em si é patético, é principalmente sinistro e preocupante.


Preocupante porque revela que desde há muitos anos a esta parte, desde que se inventou a democracia em Portugal, se têm constituído grupos corruptos e criminosos que têm agido à sombra e na intersecção dos poderes do Estado com o objectivo de conseguirem poder e benefícios para si próprios e para os seus amigos. E muita dessa gente tem agido concertadamente nos meios maçónicos.


Mas no essencial o que há a reter é que o assalto ao Estado tem sido obra de associações de criminosos tolerados pela justiça que nunca se dignou sequer fazer semblante de os perseguir.


É um facto indubitável, na sucessão interminável de histórias de corrupção e de confiscação da democracia, muitos dos seus protagonistas poderão ser gente da maçonaria. Consideremos, porém, que a verdadeira dimensão do confisco irá muito para além dos maçons. Trata-se, sobretudo, de bandos de mafiosos do bloco político que tem dominado ininterruptamente a política portuguesa desde Novembro de 1975.


Quando foi tornada pública a história daquele fulano que dirigia os serviços secretos que decidiu demitir-se, a pouco tempo de se realizar em Lisboa a cimeira da Nato, alegando para o efeito falta de recursos, e que depois se percebeu que o homem se tinha demitido para entrar numa empresa de nome inglês e de contornos misteriosos, a tal de Ongoing - going para onde? – escreveu-se aqui neste blog que esse cavalheiro era um traidor à Pátria e que devia ser julgado por um tribunal marcial.


Mas onde é que está a Pátria, onde é que está a tal de justiça, onde é que estão os governos que defendem a Pátria e a nação?


O vértice do aparelho de Estado tem sido controlado sistematicamente por grupos de corruptos mafiosos, com os resultados que estão à vista.


A questão que se coloca agora, com todos estes folclores de maçonarias, nesta época a que chegámos, época em que os mais fortes todos os dias extinguem os direitos dos mais démunis e mais fracos e que reservam para si os mais altos salários, rendimentos e benefícios, nesta época em que aqueles que todos dias trabalham por salários cada vez mais baixos ou que todos os dias procuram um emprego impossível e rezam a um deus desconhecido para que não se esqueça deles e os ajude no pânico e nas privações em que vivem, nesta época desgraçada, a questão que se coloca é inevitável: até quando é que isto vai continuar?


A crise da dívida soberana está no auge. Haverá algum dia, alguém, algum político neste país capaz e com coragem para extrair com toda a legitimidade democrática as consequências que se impõem quanto aos actos da canalha que tomou conta do vértice e dos interesses de Estado do país humilhado e castigado que somos?


As narrativas, como agora se diz, as efabulações com que se adormece o povo têm uma vantagem óbvia, elas fazem-nos esquecer a crise, fazem-nos esquecer os criminosos da crise.


Há muita gente corrupta e sem escrúpulos para meter na cadeia, não estou a pensar no pessoal que dinamita caixas de multibanco. Estou a pensar principalmente em políticos. Não vou fazer uma lista, isso iria levar muito tempo e seria certamente inútil.


Estou a pensar na nova classe de poderosos que nos governa, neste bando de malfeitores agora confortavelmente instalado no poder, bando que justifica os seus proveitos graças à democracia, que manda no parlamento, que manda no governo, que impõe novos impostos e rouba as pessoas com menos recursos, bando que prepara o assalto dos banqueiros à Segurança Social, que aumenta as taxas moderadoras, que distribui tachos milionários pelos amigos, que agradece à crise da dívida soberana a extraordinária oportunidade de poderem fazer fortuna.


Estamos confrontados com um problema crucial e definitivo, que é o da total impunidade destes bandos que controlam o poder. Maçonarias, máfias, chamem-lhe o que quiserem.


A justiça e a democracia são incapazes de neutralizar essa gente e metê-los na cadeia. Pensemos, pois, em soluções alternativas.