PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A NOVA ESTRATÉGIA DO PARTIDO COMUNISTA

 

Nos tempos da URSS, havia uns tipos considerados experts a quem chamavam os kremlinólogos, acho que era essa a palavra. Eram especialistas que davam a sua versão, que eram consultados sobre o que passava entre os muros do Kremlin, era gente que aparentava conhecer os códigos do que se passava na corte soviética, quem é que lá mandava, quem é que estava a perder poder, quem estava a subir na nomenklatura.

Não era um exercício ao alcance de qualquer um, não era como fazer as palavras cruzadas, tudo aquilo que se passava com aquela gente que mandava na URSS tinha importância muito para além da dita união e do partido comunista que dominava todos os esquemas, alianças, conspirações, negócios, perseguições no vasto império soviético, gente que ou tinha poder ou que podia estar no dia seguinte a caminho da Sibéria.

Com o fim da URSS, os partidos comunistas, herdeiros dessa “gloriosa” época perderam a sua importância. Logo, a carreira de kremlinólogo deixou de ser atractiva, o que é de lamentar. E porquê?

Algumas razões, rapidamente. O sistema soviético não desapareceu com a subida ao poder do sr. Putin, antes pelo contrário e a Rússia, herdeira da URSS, continua a precisar de decifradores de mistérios, de kremlinólogos. Deixemos isso para depois.

Segunda razão, e era aí que eu queria chegar.

Alguns partidos comunistas conseguiram sobreviver ao sr. Ieltsin e à queda do muro de Berlim. O melhor sobrevivente dessa longa estirpe soviética parece-me ser o partido comunista português. Onde é que está o partido comunista italiano, orgulho da esquerda europeia durante décadas, o partido de Gramsci, de Togliati e de Berlinguer? Onde estão os partidos comunistas francês e espanhol do Marchais e do Carillo? Out.

Onde é que está o PCP? Está on e acabou de festejar o seu XIX Congresso.

O que é que há neste congresso que mereça ser decifrado? Muita coisa, muita coisa que gostaria de ver explicada por um kremlinólogo.

O PCP, à vista desarmada é como um lago tranquilo, para simplificar, diria que é uma espécie de Alqueva, uma massa de água enorme, calma, sem ondas. À volta, reina a serenidade e, para culminar a visão idílica, a água é alentejana.

Para quem está de fora, o XIX congresso á superfície foi um alqueva.

Ouvimos os discursos, vimos as reportagens na televisão, estávamos à espera que talvez acontecesse alguma coisa de novo. Mas, em geral, nestas liturgias, isso não acontece.

Não foi o caso desta vez.

O Jerónimo de Sousa deu algumas deixas, mas manteve-se no seu papel de guardião da ortodoxia. Defendeu a demissão do governo, atacou o PS, defendeu em alternativa um governo patriótico de esquerda. Conversa oficial para manter o pessoal mobilizado.

Não se referiu uma única vez ao Bloco de Esquerda. Mais uma vez, conversa oficial. Se há uma coisa que o PCP nunca aceitou desde sempre, desde que liquidou os Anarco-Sindicalistas e se erigiu em único e legítimo representante da classe operária é que possa haver outro representante dessa dita classe que, aliás, acrescentemos, tem uma expressão social cada vez mais incipiente.

Mas eles fazem questão de ser o partido da classe operária e não aceitam concorrência. Não aceitam e detestam tudo o que cheire a maoístas, trotskistas e outros istas. Não esquecem a picareta do espanhol na cabeça do Trostsky lá no México.

Governo patriótico de esquerda sem Partido Socialista, sem Bloco de Esquerda. Programa anunciado oficialmente no tal congresso pelo secretário-geral do PCP.

Nesta parte da nossa conversa, apetece-me dizer: são cenas de manicómio.

É isso, manicómio de esquerda onde ninguém se entende, todos têm razão e ninguém tem razão.

Se eu fosse kremlinólogo, pensaria intimamente, talvez com um sorriso de disfarçada superioridade, vocês não perceberam nada. O discurso importante do congresso do PCP não foi o do Jerónimo de Sousa.

A estratégia do PCP para os próximos tempos não passou pelos discursos do Jerónimo, ela foi anunciada por Agostinho Lopes, que é o cabeça de lista do Comité Central, mas que não pertence nem à Comissão Política nem ao Secretariado. Se calhar, porque já ultrapassou os 65 anos, o PCP, até nestas coisas de idade, é completamente vaticano-ortodoxo.

O que é que há de importante no discurso do Lopes? Simples, camaradas: depois de longos anos de aparente distracção, o partido dantes euro-céptico, o PCP, descobriu que o problema político de futuro, o problema das consequências  da crise que nos anda a massacrar, a roubar, a matar em lume cada vez mais quente, a culpa de tudo isso é a união europeia e o euro.

Por outras palavras, o PCP decidiu mudar de estratégia, vai começar a mobilizar a suas tropas, e utilizo esta palavra sem nenhuma conotação pejorativa antes pelo contrário, vai prepará-las, mobilizá-las contra a UE e o euro.

Governo patriótico de esquerda mas fora do euro e da união europeia, eis a nova estratégia do PCP. Tomem nota, vale a pena.

 O que é que dirá a isto o Bloco de Esquerda, antigo partido euro-céptico convertido aos tachos de Bruxelas e de Estrasburgo? Não se sabe, mas presume-se que se vai encostar ao PS, ao O PS federalista de Mário Soares, ao PS da Europa connosco.

Vamos continuar no manicómio de esquerda? Provavelmente.

Mas quem ganha nesta mudança estratégica? Ganha o PCP.

Ganha, porque encosta os seus concorrentes de esquerda à parede das suas próprias contradições, ganha porque passa a condicionar a agenda política nacional e europeia, ao questionar e condenar a utopia europeia de uma união política e monetária que se supunha servir para promover a solidariedade e a coesão entre estados e povos europeus.

Ganha, porque estamos fartos de balelas.

Ganha porque coloca as coisas no devido sítio: a união europeia e o euro são uma desgraça para Portugal. É esse, aliás, o sentimento crescente dos portugueses.

Haverá o tal governo patriótico e de esquerda? Provavelmente não, a esquerda continuará prisioneira do seu manicómio e o povo português continuará a votar nos mesmoS de sempre.

Emigrem!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

NACIONALIZEMOS DEUS!


Pode-se nacionalizar Deus?

Raio de questão, dirão muitos e muito bons espíritos. Talvez sim, talvez não, dá que pensar…

Num daqueles debates com que nos massacram todas noites nos canais de notícias da televisão por cabo, quando não estão dar futebol, um distinto político da nossa praça, homem influente desde os tempos do contra-prec, um distinto que dura desses esses tempos como aquele boneco que quando eu era miúdo chamávamos o teimoso, o boneco ficava sempre em pé, fizessem o que fizessem, esse distinto da nossa praça, que foi ministro e agora é empresário e homem de bastidores e fazedor de ministros e de primeiros-ministros, não vou fazer propaganda do nome, esse gajo, chamemos-lhe assim, teve uma súbita inspiração que incita, não sei se era essa sua intenção, ao debate democrático-teológico.

Percebi, mas talvez me engane, que se tratou duma espécie de revolta pessoal, o homem está e sempre esteve empenhadíssimo em ganhar muito dinheiro e influência e logicamente está a aproveitar, como muitos outros da sua laia, na sua arrogância de classe, estes tempos de desgraça, de dívida, insolvência, bancarrota para chegar lá acima, cada vez mais alto.

Na liberdade e no estatuto plenos de estrela do novo regime que consolidou graças ao estado de troika que nos governa, naquela conversa de tv onde estava vendendo o seu peixe, o homem inadvertidamente soltou uma espécie de grito de revolta contra todos quantos refilam, se indignam e se sentem humilhados. Um grito de quem se sente ameaçado num privilégio, que no seu pensamento de executivo exclusivo só pode estar ao alcance de muito poucos, aqueles que gozam do privilégio da protecção da divina providência contra quaisquer espécies de pobreza ou dificuldades.

E o homem gritou num assomo de completa sinceridade e desassombro: “há para aí muita gente que pensa que pode nacionalizar Deus!”

Não fiquei estarrecido, apenas surpreendido, confesso que nunca tinha pensado nisso, nessa solução que afinal parece óbvia. Se Deus realmente existe, por que razão é que não é há-de pertencer a todos, por que é que não se pode nacionalizar?

Saudemos então a súbita clarividência do distinto político, empresário e fazedor de ministros. Afinal, o homem, está confirmado, não é um cromo, grande crânio!

Imaginemos, por um momento, que por referendo, imaginemos que o povo decidia nacionalizar Deus.

Imaginemos que o próprio Deus ele próprio ratificava essa decisão e decidia em plena consciência pôr a divina mão por cima de todos nós, sem distinção de classe, de riqueza, pobreza, inteligência, idade, sexo, eu sei lá, de igual modo a todos nos abençoava e nos protegia dos desmandos dos poderosos, dos corruptos, dos políticos e da generalidade dos vigaristas que mandam neste desgraçado mundo.

Seria um milagre de Deus ou do povo?

Deus é grande e o povo o seu profeta.

Está visto, nacionalizemos Deus, Deus igual para todos, para ateus, crentes, agnósticos, políticos, vigaristas, ladrões, gente boa, criminosos, pobres, dementes, gente séria, gente trabalhadora, bons pais, maus filhos, leiam as páginas amarelas.

Reino de Deus, democracia, a ideia geral é essa.

 

 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PRÉMIO NOBEL DA PAZ DOS CEMITÉRIOS

 

A Noruega e a Suíça são os países mais ricos, mais prósperos do mundo. Não se trata duma riqueza conjuntural como a da Islândia que estava no top e de repente faliu.

São países estruturalmente ricos, sólidos. Porquê?

Não vou estender-me sobre as causas, apenas referir alguns factos.

São dois países europeus que se situam na zona histórica da Europa Centro-Septentrional, aquela onde nasceu e se desenvolveu o capitalismo. Pertencem histórica e geograficamente a essa zona.

Mas nem um nem outro estão no euro e não pertencem à União Europeia, o que faz deles países muito particulares.

A Noruega tem uma economia solidamente alicerçada no mar, petróleo, pescas e muitas outras actividades, climaticamente é um país difícil de viver, mas parece viver muito bem. Mas não consegue explicar a recente tragédia dos jovens assassinados em massa.

A Suíça tem o queijo suíço, o chocolate, os relógios, a indústria farmacêutica, a Nestlé e, principalmente, o segredo bancário. A Suíça é o paraíso dos paraísos fiscais. A neutralidade é o seu principal capital político. Não se envolve, não celebra tratados de adesão, conseguiu manter o seu secular sistema de cantões e repúblicas descentralizadas. Ninguém manda sobre a Suíça e as suas instituições têm funções e dimensões minimais. A instituição política mais importante é o referendo de iniciativa local, o povo é que manda.

Noruega e Suíça são aqui referidas por duas razões. Ambas representam a feliz contra-imagem, a negação do que é, do que tem sido e do que será a União Europeia, se esta conseguir sobreviver.

Segunda razão, a Noruega, que assiste à tragédia dos países mais periféricos e vulneráveis da chamada união europeia, seus vizinhos de continente, no imenso orgulho e arrogância da sua riqueza e prosperidade, este país mandou a esses seus vizinhos uma mensagem insultante, ao decidir hoje, 12 de Novembro de 2012, atribuir à União Europeia o prémio político mais importante do planeta, que é o Prémio Nobel da Paz.

É um recado insultante, é uma intromissão hipócrita e desprezível na vida das democracias e das populações europeias que lutam quotidianamente pela sua sobrevivência. Nós, portugueses, gregos, espanhóis e mesmo franceses, nós, países do sul mediterrânico não precisamos da complacência nobélica norueguesa. Não aceitamos a sua retórica sobre o papel da união dita europeia na preservação da paz, é uma pura retórica para consumo das diferentes nomenklaturas políticas e financeiras que sugam como vampiros o sangue das nossas democracias, das nossas economias, do nosso sustento.

A União Europeia não conseguiu evitar a guerra na Irlanda do Norte, ficou à margem dos massacres na ex-Jugoslávia, não conseguiu acabar com a divisão de Chipre, não impediu os massacres no País Basco, foi cúmplice da invasão e guerra do Iraque e do Afeganistão. União Europeia e paz, tretas. Nobel da Paz, mistificação.

Ao contrário da ideia idílica duma união de paz, a união dita europeia está-se a transformar rapidamente num gulag colectivista para gente pobre, humilhada e sem liberdade.

Transformou-se um território de 500 milhões de pessoas dominado pela Alemanha e países seus cúmplices. Um território em plena guerra social. Guerra social que talvez descambe para formas mais graves.

Acabou de receber o Prémio Nobel da Paz. Não teria sido mais justo ter atribuído esse prémio, enquanto era tempo, à antiga União Soviética?

Falemos de paz e de UE.

Quando se formou, inicialmente, tratava-se duma Comunidade do Carvão e do Aço. Creio que eram seis países: os dois do Benelux, a França, a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca. Territórios da 2ª guerra. A ideia subjacente era evitar novas guerras. Principalmente a França que sempre se houve mal com a Alemanha, queria evitar as germânicas garras. Então optou-se por uma estratégia nova, diferente daquela que foi imposta no final da 1ª guerra com as reparações de guerra exigidas aos vencidos, os alemães.

Houve o chamado milagre alemão do tempo do Adenauer, mas esquece-se que esse milagre foi suportado principalmente pelo Plano Marshall e por todas as ajudas e cumplicidades trazidas pelos americanos.

Esquece-se também que o país decisivo na luta contra a Alemanha foi desde o princípio a Inglaterra e que os ingleses não subscreveram o tal acordo inicial da CEE, o do carvão e do aço. Não tiveram e continuam a não ter medo dos alemães. Essa é a verdade, os ingleses não se submeteram a chantagens, nem sequer ligaram aos americanos!

Influência de tudo isto sobre a paz. Influência óbvia: a Alemanha foi ajudada de todas as partes, prosperou, milagre económico, progressivamente foi aumentando o seu poder político e financeiro. E naturalmente começou a promover o alargamento do espaço do carvão e do aço para outras actividades. O que implicou o aumento do número de países a entrar para esse espaço, tendo a coisa passado a chamar-se união europeia. Passo seguinte, dotou-se esta nova coisa duma arma letal apontada ao coração dos países mais fracos. Arma chamada euro, teoricamente apresentada como moeda única ao serviço da coesão social e do progresso de todos os países felizes contemplados.

Na realidade, o euro é, continua ser o deutschmark, um euro alemão ao serviço do expansionismo germânico.

Durante décadas, também a União Soviética teve a sua moeda única, o rublo, teve a sua comissão europeia de burocratas, que era o Comité Central do PCUS, tinha o seu parlamento europeu que era o plenário do PCUS e reunia para votar ladainhas soviéticas, tinha a sua economia centralizada, regulada ao pormenor, desligada das realidades sociais, economia de empobrecimento, de gulags, de perseguições. Nos anos 1970, a URSS já estava praticamente falida. Ia funcionando, ou seja, foi funcionando até ao dia em que a máfia do KGB em 1991 tomou conta daquilo tudo. E agora têm o Putin, o jovem Estalin que se exibe espojado nos seus privilégios com as suas cliques.

Por falar em paz, a União Soviética funcionou durante décadas, em paz. Houve alguns problemas localizados, estilo Arménia/Khabarovsk, houve algumas chatices com países chamados satélites, mas tudo se resolveu rapidamente. A certa altura, perderam a cabeça e decidiram tornar o Afeganistão também seu satélite. Com os resultados que se conhecem. Pura loucura, os soviéticos já eram uma potência de segunda ordem, não tinham hipóteses.

Logicamente, chegou o problema insolúvel, o muro de Berlim. Aí, a União Soviética já estava em processo de dissolução, já não tinha força para resistir às aspirações de liberdade dos cidadãos dos tais países satélites.

Serão os países do sul europeu satélites da União Europeia Soviética de Berlim e de Bruxelas? Não é uma pergunta despropositada.

O que é despropositado em toda esta amarga história é a mesquinha e sórdida submissão com que os governos desses países satélites meridionais  aceitam os diktats toikísticos. Sórdida submissão, tão mais evidente,  quando é o presidente da comissão europeia e futuro presidente da república de Portugal que vem a público afirmar que a troika não tem nenhuma responsabilidade sobre os “ajustamentos” causadores de miséria e outros memorandos. A responsabilidade é dos governos que os assinaram.

Sórdida submissão quando a melíflua srª Lagarde do FMI vem reconhecer que  a sua generosa instituição se enganou nos modelos econométricos, nos cálculos, nas previsões. Enganaram-se, mas ela não acrescentou “que se lixe a troika”.

Que se lixe a troika, que se lixe o euro, que se lixe a união europeia soviética e colectivista.

Os sacrifícios, a austeridade, a pobreza, a miséria que nos têm sido impostos pela ditadura dos lacaios de Berlim e de Bruxelas vão-se agravar. Só os tolos e os interessados na miséria alheia não vêem isso.

Na melhor das hipóteses, nos próximos vinte anos ainda haverá caixotes do lixo em alguns lugares escondidos das nossas ruas. É uma esperança, uma alternativa, como diria o pessoal reunido na Universidade de Lisboa no passado 5 de Outubro.
Resignamo-nos ou revoltamo-nos?

Direito à revolta contra as ditaduras e a miséria, direito básico, essencial, incontestável.

Se só temos mais sacrifícios, sacrifícios incomensuravelmente maiores, à espera, assumamos desde já até onde estamos dispostos a ir.

Não há nada a renegociar com a troika, dívidas ou o que quer que seja.

A negociação que há para fazer é apenas com Bruxelas. Negociar o quê? Negociar imediatamente   a saída do euro. Negocie-se essa saída e  negocie-se também a saída da união soviética europeia. Negocie-se, logo se verá.
Quanto aos sacrifícios, nós não somos um país de cobardes, havemos de assumir as nossas responsabilidades. Mas para bem do país, do seu futuro e sobrevivência, do futuro dos jovens. Convoquemos os nossos concidadãos, sejamos corajosos, retomemos a nossa liberdade, liberdade de cidadãos livres, liberdade de Estado soberano, Estado com quase 900 anos, o mais antigo da Europa.

Cabe ao Presidente da República demitir imediatamente o governo de destruição nacional que temos agora e substituí-lo por um governo de políticos sérios, honestos, competentes, com experiência de vida e de administração do interesse público. Um governo que seja apoiado pelo parlamento. À maneira do governo italiano do Mario Monti, que substituiu Berlusconi.

A brincadeira chegou ao fim, tem que chegar ao fim.

Cavaco Silva está colocado perante uma responsabilidade-limite. É a sua última oportunidade.

 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

POWER TO THE PEOPLE


Amanhã, finalmente, o Terreiro do Paço vai-se encher de gente. Terreiro do Paço, diria antes Terreiro do Povo, foi ali perto que se jogou a sorte do 25 de Abril quando o capitão Salgueiro Maia avançou de peito aberto para o último general que saiu em defesa do Estado Novo e o convenceu a render-se.

Já lá vão anos, bastantes, mas as histórias dos povos medem-se em tempos longos, pode haver instantes como esse do herói Salgueiro Maia, mas o que conta é a longa duração.

Estamos a dois anos dos 40 anos da generosa revolução de 74.

Vai ser uma comemoração triste? Não sou de fazer prognósticos.

Já há muito tempo que não escrevo aqui neste espaço, a razão é simples, detesto repetir-me e tudo o que aconteceu desde o início do Verão estava já anunciado há muito tempo.

15 de Setembro foi um facto novo. Duas semanas depois talvez as coisas acelerem.

Talvez acelerem para um estado de insurreição que inevitavelmente há-de vir.

Oa países da Europa do Sul, incluindo a França, estão à beira da insurreição. Acontecerá, não acontecerá? Não sei.

Algumas coisas que sei.

A União Europeia é uma prisão, é um campo concentração.

A União Europeia defende os interesses da Alemanha e é comandada pelo grande capital financeiro chefiado pelo banco americano Goldman Sachs e seus lacaios.

Mario Drahgi, Mario Monti, Papademus, António Borges, Vítor Gaspar, esses  nomes dizem-vos alguma coisa? É gente formada na escola do Goldman Sachs que, depois de devidamente apetrechada, foi despachada para a união europeia.

Dois deles, muito concretamente, para Portugal. O que é vieram para cá fazer? É simples: cercar e destruir a economia portuguesa em nome dos interesses do grande capital financeiro internacional. No meio disso tudo, o que é que representa o Passos Coelho? É um verbo de encher. É um antigo Jota que não sabe nada de nada, quem é que o pôs no lugar onde ele está? Adivinhem.

Que fazer, então, amanhã? Acabar com a TSU? Isso já está feito.

Iniciar uma imparável insurreição nacional? Não há outra saída.

Não me falem da remodelação governamental. Deixem lá esse bando de incompetentes salafrários. Deixem-nos ficar lá mais uns tempos, alimentando os seus egos e os seus interesses e dos seus amigos e afilhados. Vão dar uma ajuda preciosa no estoiro do regime do bloco central de interesses.

Presidente da República? Não brinquemos com coisas sérias.

O que é que resta? Ponhamos as nossas massas cinzentas, as nossas meninges a trabalhar.

Repensemos o país, mandemos a UE e o euro de volta para a Alemanha e para o chanceler Kohl e a sua protegida Merkel, enterremos as utopias federalistas, a união bancária e a moeda única e tratemos da nossa vida, das nossas alianças, outras alianças com outras gentes. Todo o cerne da questão reside aí, reside nessa criminosa utopia fundada pelos padrastos e seus seguidores da CEE.

Repensemos o país, reconstruamos a nossa economia destruída pela nomenklatura soviética de Bruxelas, criemos oportunidades à criatividade científica e à inovação, apostemos nos jovens, nas novas ideias, em coisas sérias, não em fundações para arranjar tachos para a escória de oportunistas e parasitas cujo modo de vida tem sido sempre chuchar nas tetas do Estado.

Criemos um Estado de produtores competentes, capazes de assumir riscos, respeitemos os direitos de quem trabalha. Deixemo-nos de tretas. Demitam o governo, demitam o presidente, demitam os nababos das autarquias e das regiões. Ocupem o Terreiro do Paço. Power for the People.

terça-feira, 17 de julho de 2012

APOIEMOS O RELVAS

 

Já estou um bocado farto de ouvir falar desta história do Relvas.

O Relvas é também o país que temos, é isso, já estou farto do país que temos.

Mas o Relvas é um bom pretexto para se falar desse país.

É um país de chicos espertos, mas isso já sabíamos, pelo menos desde o tempo do Sócrates.

Mandaram esta luminária para Paris, o que ele talvez agradeça, talvez agora esteja a aprender alguma coisa que valha a pena saber. Mandaram a luminária embora, mas vieram outras bem piores.

Na história da Lusófona, ainda não se falou, ou têm-se esquecido, certamente de propósito, coisas da maior importância.

O ensino superior privado foi uma invenção do sistema Cavaco nos anos 90. Muita rapaziada queria entrar para a universidade, ele fechou-se em copas, manteve a política do numerus clausus e isso foi um bom pretexto para abrir as portas ao monstro das privadas, ao pessoal do business. A pressão, aliás, já vinha de trás, as primeiras privadas que viram a luz do dia foi ainda antes do Cavaco chegar ao poder, eram uns antigos ministros do Salazar e do Marcelo que tinham sido postos a andar, estavam desempregados e meteram-se no negócio.

O Cavaco foi muito esperto, já que havia uma procura tão grande, então deixemos criar essas novas universidades privadas, nem que sejam de vão de escada, vão criar óptimas oportunidades de emprego para o pessoal que anda na política, mas que precisa de ganhar mais qualquer coisinha. E depois logo se verá.

Aliás, a história do crescimento dos politécnicos nessa época teve a mesma lógica. Eram públicos, mas quem é que foi para lá dar aulas e mandar naquilo? A maioria era gente do partido cavaquista, o PPD/PSD.

Já são histórias antigas, a que nenhum governo soube pôr cobro. É uma história comandada pelas alternâncias do bloco central.

Tem sido um fartar vilanagem, ajudado pelo famoso protocolo de Bolonha.

Não tenho pachorra nem tempo para estar a falar desse protocolo celerado.

Mas tem que ser citado, as equivalências do Relvas foram concedidas sob a divina invocação do protocolo de Bolonha. Portanto, são legais, esse é o argumento.

Argumento que torna Portugal um país de gabirus e de oportunistas. Foste presidente duma sociedade filarmónica, mais duma associação de bombeiros e duma secção da sociedade protectora de animais, tens o direito de requeres a equivalência à licenciatura no que tu quiseres. Médico, why not?

País de chicos espertos, país que glorifica a ignorância e a eleva ao supremo critério da competência para se entrar nos fechados clubes das elites que mandam - não governam, mandam - no país.

País de chicos espertos, cujo ministro da Educação que criou a reputação de político severo, disciplinador e exigente, veio à televisão com ar compungido desculpar-se que não ia pronunciar-se sobre um colega de Governo. Deve-se sentir confortavelmente acompanhado na companhia de malandros.

Lusófona, não conheço a história do monstro, deve ser uma linda história, é um império, emigrou para além-mar, criou pequenas e médias empresas de formação e outras coisas e, inclusivamente, apoiou activamente o primeiro-ministro Passos Coelho nos tempos heróicos em que este andava com o seu indefectível companheiro Relvas a fazer campanha para se tornar presidente do partido laranjinha e putativo candidato a primeiro-ministro. A sede da campanha do homem era na Lusófona.

Falam do Relvas, não falam do Coelho.

Está tudo sob controle, os serviços secretos devem estar atentos, devem fazer as suas costumeiras ameaças, ninguém toque no nosso chefe.

Não se toca no chefe, apenas no seu sargento-ajudante, o Relvas.

Eu, por mim, sou de opinião que deixem lá estar o Relvas.

Não me parece mais incompetente do que o ministro da economia ou o ministro da educação ou outros, é certamente mais esperto do que todos eles juntos e, por outro lado, quanto mais tempo ele lá ficar melhor, não é só a careca dele que fica à mostra, a do primeiro de todos os ministros também e, então, é provável que o governo não dure muito mais tempo, e é disso que o país precisa. Urgentemente.

Se convocarem alguma manifestação para apoiar o Relvas, eu lá estarei.

sábado, 7 de julho de 2012

FUTEBOL E OCUPAÇÃO ESTRANGEIRA


 
Portugal é um país sob ocupação estrangeira.

Todos sabemos isso, mas fazemos por disfarçar. Sentimo-nos portugueses quando Portugal joga contra a Alemanha ou contra a Holanda ou contra a Espanha. Nessas alturas somos patrióticos de verdade. A razão é simples, a única coisa que preocupa os portugueses é e sempre foi desde há muitas décadas o futebol. De que falam os portugueses quando se encontram no café ou no emprego ou estão em família? Falam de futebol.

Não falam dos enfermeiros que estão a ser pagos a menos de 4 euros por hora por empresas privadas que alugam os seus serviços ao Estado. A qualidade dos serviços médicos não parece preocupar muito os portugueses. E quanto a solidariedade contra as injustiças estamos falados.

Fé em Deus e bola prá frente.

Os portugueses não falam dos mais de 16% de desempregados, mais de um milhão. Deus é grande, a Igreja dará de comer a quem tem fome.

Não falam dos cortes dos salários e dos subsídios da função pública e dos reformados. Não falam dos milhares de professores que estão no desemprego e que não entram para o quadro, não falam das parcerias público-privadas e dos contratos ruinosos que essa gente impôs ao Estado para que eles possam ter lucros fabulosos.

A triste realidade é que os portugueses são um povo de parvos, gente egoísta e ignorante que só se manifesta quando lhe põem camiões pesados a passar ao pé da porta ou lhe tiram o centro de saúde. O lema dos portugueses é Deus por todos e cada um por si. O resto que se lixe.

O bom povo português preocupa-se com o futebol e confia nos seus governantes, confia no Passos Coelho, no Gaspar, no Relvas, no Portas e nessa troupe toda. Sempre foi assim, por que razão é que as coisas haviam de mudar?

Quando entrámos para a CEE, o grupo mais cínico dos nossos intelectuais apoiou fervorosamente a ideia, pôs-se inteiramente ao dispor da Europa Connosco do Dr. Soares. O argumento deles era completamente honesto. Diziam esses senhores, Portugal não tem governantes capazes, nunca teve, entremos então para a CEE, os tipos de Bruxelas hão-de pôs isto tudo na ordem, só temos de fazer o que eles mandarem. Além disso, vão-nos oferecer muito dinheiro, a gente moderniza-se rapidamente, passamos a país rico.

Foi assim que tudo começou.

Entrámos, vieram os fundos estruturais, foi um regabofe para muita gente, jeeps de alta cilindrada, casas, palacetes, cursos de formação fantasmas, tudo isto com uma contrapartida. Para a CEE, Portugal devia abrir-se ao grande espaço de comércio comum, mas não devia fazer concorrência desleal. Recebia dinheirinho fresco, mas, em troca fechava a agricultura, as pescas e a indústria. Portugal devia limitar-se a ser um país de obedientes consumidores.

Não vale a pena fazer a história disto tudo, ela é sobejamente conhecida. Falemos antes do presente.

Somos um país ocupado e não vejo como é que vamos sair disso.

As nossas elites políticas são cada vez mais medíocres. Nos últimos anos chegou a vez da geração dos jotas. São eles que nos governam. O primeiro-ministro é jota, os seus braços-direitos no partido e no governo e muitos outros à sua volta são jotas. O primeiro-ministro anterior também era jota assim como os seus assessores e ajudantes. Quem são estes jotas? São uns tipos que não estudaram ou estudaram pouco, que enfileiraram nos aparelhos partidários para ter emprego e subir na vida e que, quando chegaram aos 40 anos, perceberam que tinham que arranjar um canudo de dr. Desse por onde desse.

É essa gente que, desde o Sócrates, tem governado e vai continuar a governar este país. Não sabem nada de nada, não têm ideias próprias, não têm experiência de vida, não conhecem o país, tecnicamente são totalmente incompetentes.

Participam em reuniões internacionais, ouvem e calam, recebem ordens e obedecem. São mais provincianos do que o doutor Salazar que nunca saiu do país, a não ser para ir à fronteira encontrar-se com o general Franco. Não compreendem, nunca estudaram seriamente o que mundo em que vivem, não têm sequer um esboço de algumas ideias para defender os interesses do mais antigo país da Europa, um país com quase 900 anos.

A União Soviética Europeia que nos ocupa multiplica as cimeiras e, a cada cimeira, parece ter descoberto a pólvora. No dia seguinte, grande foguetório na comunicação social, as bolsas dão um ar da sua graça. Estas euforias têm vida curta, já estamos habituados, tudo volta ao mesmo, dito de maneira mais acertada, tudo fica pior.

Na última cimeira, parecia que a Alemanha tinha cedido à pressão dos franceses, dos italianos e dos espanhóis. Pura ilusão. A Alemanha conseguiu impor o seu pacto orçamental a toda a gente, inclusive ao francês Hollande, que andou durante meses a dizer que queria renegociar o dito pacto germânico. Na prática, italianos e espanhóis não conseguiram nada do que queriam, vão ter que apertar ainda mais o cinto, vão ter que se submeter à vontade germânica. E, quanto à Grécia, não vale a pena falar, a Grécia já passou à história, bye-bye euro.  

Servir-nos-á tudo isto de consolação? De algum modo sim.

Temos um governo de gente falhada, ignorante, provinciana e vendida aos bancos e aos grupos das PPP, vamos ter que emagrecer, empobrecer, desaparecer, emigrar.

Venham então os alemães, talvez eles consigam endireitar o país. Até lhe podemos alugar isto tudo, se bem que já não haja muito para alugar, a não ser as auto-estradas.

Depois, logo se verá. Talvez guerrilha contra os ocupantes, sabe-se lá! Mas, por enquanto, no espírito do bom povo português, tudo está em ordem, o povo é paciente, Passos Coelho dixit. O futebol é quem mais ordena.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

ELEIÇÕES GREGAS: A NOVA JANGADA DE PEDRA



Estamos em plena guerra europeia, a maior parte dos europeus não se dá conta disso, é uma guerra que se aproxima do seu momento de verdade. Momento do salve-se quem puder.

Não há bombas, nem artilharia nem exércitos, por enquanto é apenas uma guerra de bluffs.

O bluff do Rajoy espanhol, por exemplo. A Espanha está falida, é seguramente o país mais falido da UE, vejamos o pódio europeu dos mais falidos: medalha de ouro Espanha 25 % de desemprego, medalha de prata Grécia 23%, medalha de bronze Portugal 16%.

A Espanha, grande potência de antigamente e orgulhosa do seu milagre económico dos anos 90, descobre de repente que é o país mais falido, pede 100 mil milhões de euros a Bruxelas e o empréstimo é concedido à velocidade da luz.

A justificação para esta pressa toda são as eleições gregas.

Tudo cálculos errados.

A maneira como o misterioso empréstimo espanhol foi anunciado, empréstimo supostamente reservado aos bancos sem intervenção de qualquer troika e de um memorando de austeridade, tudo isso só veio aumentar a desconfianças da suprema autoridade metafísica que regula a finança internacional, suprema autoridade genericamente assimilada a diferentes heterónimos, mercados, agências de rating, investidores, autoridades reguladoras financeiras internacionais, bolsas de valores, fundos obrigacionistas…

Os co-autores do golpe espanhol queriam evitar o contágio grego. Na volta, aumentaram a pressão sobre a própria Espanha, colocaram a Itália na berlinda e puseram também a França a tremer.

O Hollande francês ostensivamente não se entende com a chanceler alemã e aproxima-se do Mário Monti e do renitente Rajoy que se tem andado a fazer de esquisito. Este tipo menosprezou o Hollande quando este foi eleito, andou a prestar vassalagem à Merkel, que é o que o P. Coelho tem andado a fazer, e agora, como está no mato sem cachorro, começa a pedir a protecção francesa. Um verdadeiro desastre.

Todos os realinhamentos políticos de países do sul europeu, que parecem estar agora na calha, já deviam ter começado há pelo menos quatro anos.

Agora é tarde.

É tarde para toda a gente.

É tarde, em primeiro lugar, porque deixou de haver política e políticos dignos dessa função. Fim da História, diria o Fukuyama, mas não é disso que se trata. Dantes havia quem gritasse Deus está morto, era uma provocação. Para que Deus estivesse morto era necessário demonstrar que alguma vez tivesse estado vivo.

A verdade não é Deus que está morto, o que morreu foi a Política.

O lugar deste histórico defunto, nascido entre Maquiavel e a Revolução Francesa, foi ocupado agora pelos bancos e seus banqueiros, que transformaram as nossas vidas em números manipulados por engenharias e híper-corrupções, traficados por bancos e por banqueiros que ganham biliões e controlam as bolsas de Wall Street e congéneres, as bolsas de matérias primas, as bolsas dos bens alimentares, da água, da energia, as telecomunicações.

A lista do poder destes poderes ocultos não tem fim.

Estamos hoje a dois dias das eleições gregas.

Lembremos que, entre 6 de Maio e 17 de Junho de 2012, não passou sequer um mês e meio.

Em Dezembro de 2011, a Alemanha e os seus compinchas europeus obrigaram o Papandreo a renunciar ao seu referendo sobre o euro e a demitir-se. Antes disso, os irlandeses foram obrigados pela chamada “união” europeia a repetir um referendo sobre um tratado europeu, já nem me lembro qual.

Mas nunca nenhum país europeu tinha sido obrigado a repetir eleições legislativas com menos de mês e meio de intervalo.

É a união soviética europeia que temos, a união do centralismo democrático em todo o seu esplendor, que decide em nome da democracia e do povo. Sobre isso, já estamos conversados há muito tempo.

O problema é que as consequências chegaram à sua hora da verdade.

A Lagarde do FMI anunciou que só tínhamos três meses. Três meses para quê?

Sejamos realistas. Quanto ao pânico europeu acerca das eleições gregas de domingo, os resultados vão dar razão aos europeístas militantes mais pessimistas.

As eleições não vão resolver nada e nada quer dizer nada daquilo que querem os mandões que têm esmifrado o elo mais fraco da “união”, ou seja os países mais pobres e periféricos,

Os bancos alemães, o Goldman Sachs, o Morgan, o Crédit Agricole e toda a matilha de especuladores que têm apostado nos juros fabulosos que cobram aos gregos e aos periféricos e nas compras hiper-fabulosas dos restos das economias desses países, toda essa quadrilha vai entrar em pânico.

Não vão ter um parceiro que continue a fazer-lhes as vontades.

É que a lógica puramente bancária do capitalismo puramente capitalista não tem golpe de rins suficientemente ágil para discernir até que limites é que pode ir o seu terrorismo bancário. Matam o doente, quem é que lhes vai continuar a pagar os juros, quem é que lhes vai continuar a comprar as mercadorias?

Não é provável que das eleições gregas saia um governo viável e consistente. Quer seja um governo obediente à troika, quer seja um governo rebelde de esquerda.

Donde facilmente se deduz que os gregos serão chutados para fora do euro e da união soviética europeia. Coloca-se então a fatídica questão: quem é que vai governar a Grécia? Os militares?

Qualquer que seja a solução, a falência grega representará a falência da pura lógica bancária do capitalismo puramente capitalista.

Mas, por outro lado, significará o regresso da política internacional puramente política.

Os gregos ficarão a saber com que amigos é que podem contar.

Aceitam-se apostas.

Muitos novos amigos vão bater às portas da Grécia falida e expulsa do euro.

Prefigura-se neste caso uma repetição da história simbólica da jangada de pedra do Saramago. A Grécia é um conjunto de territórios rodeados de água por todos os lados. A água, o mar convidam à viagem.

Os gregos desamarram da Europa, do velho continente e rumam mais para oriente e para sul, destinos não lhes faltam. Viajam, vão conhecer esses novos destinos, a Rússia e a próxima Ásia, o Oriente médio e próximo, o Egipto e o Magreb do jasmim primaveril.

A Nato já deverá ter desculpas preparadas para minimizar as consequências da viagem dessa nova jangada de pedra.

É que, desde que foi abandonada pelo inimigo Pacto de Varsóvia e perdeu a sua razão de ser, a NATO  tem passado o tempo a descobrir novos destinos.  Persegue a Al Kaeda,  manda tropas para o Afeganistão, para o Yémen e para a Líbia. E, naturalmente, após o colapso do Kadhafi, tem planos para se instalar no Mali, no Sahara, na Costa do Marfim, sabe-se lá onde é que isso vai levar.

Segunda-feira, 18 de Julho de 2012, face à débacle grega e ao que se lhe vai seguir, continuará a haver entusiastas europeístas bem instalados na vida com razões para proclamar que não há nada de novo na frente ocidental.

Frente ocidental, frente de guerra. Quem serão os vencidos, quem serão os vencedores?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

QUEM RESGATA A ESPANHA?





Espanha é o país dos toureiros, Manolete, Dominguin e outros cujos nomes esqueci.
É o país do flamenco, Camaron de la Isla, Juanito Valderrama e quantos outros.
A Espanha é a quarta economia europeia, mas entre os séculos XVI e XVII, foi a primeira potência mundial, dominava a Europa e quase todos os caminhos que se cruzavam pelo mundo.
A França tem a “grandeur de la France” do De Gaule, a Inglaterra tem o jubileu da rainha e as memórias de grande potência pirata e colonial. Tem também a city, o que não é coisa pouca.
A Alemanha tem duas guerras mundiais e muitos milhões de mortos, torturados e perseguidos.
Todas estas grandezas estão agora a ser confrontadas com a iminência duma vergonhosa bancarrota, os chineses, os russos, os brasileiros e outros emergentes dão palmadas na barriga, acaba o ocidente imperial e colonial, ite, missa est.
Por ordem de grandeza medida de acordo com os critérios capitalistas actuais, na chamada euro-zona,  está em primeiro lugar a Alemanha, a seguir a França, em terceiro a Itália e em quarto a Espanha.
Isto não é apenas um ranking estilo livro de records.
É o ranking anunciado do descalabro da união soviética europeia. Parece que estamos em finais de 1991, quando o Ieltsin tomou o poder e percebeu que tinha de dissolver a URSS.
Quando a deliquescência do capitalismo atingiu a Itália, obrigando o poder de Berlim/Bruxelas a pôr a democracia na gaveta e nomear um funcionário do banco americano Goldman Sachs para presidir ao governo italiano, só para os profiteurs do costume é que não era óbvio que a engrenagem criada pelos tratados de Roma e de Maastrich estava a caminho da extinção.
O tsunami da crise da chamada dívida soberana foi avançando, enquanto a sra. Merkel e o sr. Sarkozy andavam a entreter os incautos e as vítimas.
Antes, falava-se da Grécia, de Portugal e às vezes da Irlanda. Passou-se a falar da Itália.
Mas os tsunamis movem-se a alta velocidade e chegaram rapidamente à Espanha. Próximos destinos? França, Holanda, Áustria, Alemanha. O último a sair que apague a luz.
A França não tem dinheiro, perdeu a indústria, foi, aliás neste domínio ultrapassada pela Itália. A Holanda tem trejeitos de grande potência euro-zona, mas não tem governo, porque não há partidos preparados para assumir os encargos políticos da austeridade. A Áustria já começou a ser atacada pelas agências de rating e foi desvalorizada, apesar de toda a sua arrogância. A Alemanha vai enfrentar uma grave contestação social por causa dos baixos salários que têm engordado o capitalismo alemão. Os bancos alemães entraram na mira das famosas agências de rating e alguns foram desvalorizados. A Alemanha destruiu a economia dos países europeus do sul e vai deixar de ter parceiros para os seus chorudos negócios.
No meio de tudo isto, não se pode perder de vista que os únicos países que estão a captar dinheiro e investimentos são os que não têm nada a ver com o euro. A Suiça e os países nórdicos é uma cena já conhecida. A principal novidade é que nas últimas semanas tem crescido o movimento de capitais para o Reino Unido, movimento que tem origem em vários países da euro-zona, principalmente da Grécia. A libra esterlina é um porto de abrigo e não é relevante para a situação financeira internacional que os ingleses estejam a viver cada vez pior. Money is Money.
Abreviemos.
A Grécia está falida, Portugal e a Irlanda também. À Itália vale-lhe que a maior parte da dívida do Estado esteja nas mãos de aforradores italianos. Quanto à Espanha, end of the road, a Espanha não tem qualquer alternativa.
O Rajoy não sabe o que é que há-de fazer com os bancos espanhóis, estão falidos. Não é apenas o Bankia. Quer que a UE abasteça esses bancos falidos. Quer que a UE  assuma as responsabilidades, porque o governo espanhol não tem a coragem de pedir o tal de resgaste troikiano, que nós, os gregos e os irlandeses tivemos de pedir.
Não tem coragem porquê? É simples: se pedir, vai ter uma guerra civil, com milhões de pessoas na rua. Para guerra civil já bastou o que bastou.
Principalmente, não se trata duma guerra civil propriamente dita, é mais uma guerra europeia, uma guerra que não tem a ver com motivos ideológicos. Trata-se tão somente de dinheiro, guerra financeira, guerra manipulada pelo Goldman Sachs e os seus compinchas.
É o capital desenfreado e sem quaisquer escrúpulos que quer ganhar cada vez mais dinheiro. Não é o Hitler nem o Estaline, esses ao menos sabia-se quem eram.
Agora é muito pior, quem comanda é uma poderosa nebulosa de altos interesses que ninguém, em nome da democracia, conseguirá controlar.
Venham então os toureiros.
Venham milhões para a rua.

sábado, 26 de maio de 2012

A AUTO-ESTIMA ALEMÃ E OS CUSTOS DA BANCARROTA GREGA


O dia 6 de Maio de 2012 é um dia a fixar. A importância deste dia estava, aliás, fixada desde há mais de um ano, por causa das eleições francesas e do que delas resultaria quanto ao futuro do famoso e pérfido casal Merkozy, casal franco-alemão impante na sua prosápia de condutor dos destinos da Europa e quiçá da humanidade.
Nesse dia que talvez possa vir a ser histórico, consumou-se o divórcio do dito casal, aqui anunciado. Resta saber quais é que vão ser as consequências da ruptura matrimonial.
No imediato, ainda passou pouco tempo, mas muitas coisas já mudaram: a arrogância alemã está com problemas de auto-estima, essa malta merkeliana começou a ficar com dúvidas, sente-se insegura. O realinhamento e as discussões políticas em torno do binómio austeridade/crescimento pende claramente para o lado francês e dos países do Sul.
Aliás, o Hollande que nos foi apresentado como representante da esquerda mole, afinal, está-se a revelar um fino estratega.
Fez-se acompanhar pelo primeiro-ministro espanhol na sua viagem de combóio para o encontro dito informal de Bruxelas, não falou com a Merkel antes da reunião e tem programadas reuniões com o Monti italiano e com o primeiro-ministro polaco. Uma estratégia de cerco ao poder alemão. Apoiado.
 O nosso (deles) Coelho não me parece que esteja na sua agenda. De resto, o tal de Coelho prefere aparecer sorridente na fotografia ao lado da Merkel, que olha para ele toda babada. Não sou eu que vou contestar à senhora tal devaneio.
Resumindo, a eleição do Hollande veio baralhar as relações dentro do vértice europeu, está em movimento um puzzle com muitos embustes à mistura, as relações de forças estão a mudar de dia para dia.
Os políticos, os  jornalistas ou fanáticos da política que estão mais ou menos por dentro do que está a acontecer, todos os fanáticos de jogos de bastidores devem estar à beira, desculpem lá a comparação, duma espécie de orgasmo, duplo ou triplo.
E não arriscam apostas.
Resta falar do essencial que está em causa neste orgástico jogo: a questão da Grécia.
Todos os responsáveis europeus têm andado a declarar publicamente que fazem questão que a Grécia permaneça no euro e na UE. Sabe-se, porém, que todos eles têm gente a fazer contas sobre as consequências da saída da Grécia.
E se afirmam que querem a Grécia no euro é por duas razões.
Apostam no apoio à Nova Democracia e ao Pasok nas eleições e combatem a esquerda anti-tróika.
 Mas esta gente habituada a controlar todas as situações está em pânico.
Pânico, porquê?
É que, se a esquerda radical grega ganhar as eleições de 17 de Junho, alemães, franceses, holandeses, finlandeses e toda essa malta vão mesmo que ter que fazer contas.
E não se trata apenas de contar os milhões que os seus bancos e outros grupos capitalistas vão perder com a bancarrota grega.
São contas mais políticas do que financeiras. Se a Grécia sair do euro e entrar em ruptura com a UE, o que é que acontece com a Nato, o Mediterrâneo Oriental, a Turquia, o Médio Oriente, a Rússia?
Do ponto de vista da Europa e dos Estados Unidos, a Grécia continua a ser o lugar mais estratégico no confronto com o Oriente mediterrânico próximo, o Oriente médio muçulmano e o Oriente eslavo.
Façam, então, as contas bem feitas, tenham cuidado, não brinquem com o fogo.
Acabem com o massacre dos gregos enquanto é tempo. Acaba por sair mais barato e menos perigoso do que insistir na obsessão germânica de castigar os gregos pelos seus pecados e correr com a Grécia para o inferno da bancarrota.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

SALVAÇÃO DO EURO: DA CONTA BANCÁRIA PARA O COLCHÃO





A Espanha claudica, a Grécia afunda-se, Portugal descobre, pela voz do seu primeiro-ministro, que o desemprego afinal ajuda a mudar para uma vida melhor.


O Hollande ganhou as eleições, o Hollande e o seu governo são parvos, tem andado a proclamar no Público a voz autorizada do sr. Vasco Pulido Valente.


Portugal é um país de mentes brilhantes.


A união europeia está à beira de se desfazer, o sr. Henrique Monteiro, no Expresso, apela aos europeístas para salvarem a Europa e conjura os socialistas a demarcarem-se claramente da esquerda anti-europeia.


Pergunto, onde é que está essa tal de esquerda anti-europeia?


Os únicos anti-europeístas de que tenho notícia não são de esquerda, pelo contrário, são alguns partidos europeus da direita populístico-nacionalista, na primeira linha dos quais estão partidos holandeses, austríacos e franceses.


Mesmo a chamada esquerda radical grega tem feito um discurso pró-união europeia e pró-euro.


E em Portugal, por uma espécie de milagre das rosas, o PC e o BE mantêm-se convictamente na linha europeia politicamente correcta, a par, aliás do CDS-PP, cujos devaneios anti-CEE há muito que passaram à história.


Vejamos então o que é que coloca a união dita europeia na situação de precisar de apelos para a sua salvação.


Será a ameaça incarnada pelas direitas nacionalistas e populistas europeias?


Será alguma conspiração da chamada extrema esquerda, em cujo espectro político alguns distintos comentadores jornalísticos e do pequeno ecrã deste pequeno país incluem o Syriza grego, que, segundo as sábias palavras do sr. Monteiro, é uma espécie de bloco de esquerda?


Haverá ainda algum partido de extrema esquerda na Europa suficientemente ameaçador e perigoso que motive um apelo à salvação da Europa?


Voltemos ao princípio, voltemos ao ranking dos países que estão à beira do precipício e que, por estarem nesse lugar eminentemente perigoso, arrastam toda a Europa para a mesma vertigem do abismo.


O precipício da Grécia tem uma história e tem responsáveis óbvios, desde os capitalistas gregos que têm roubado e explorado à tripa forra, que não pagam impostos, tal como a igreja ortodoxa que mantém privilégios de séculos e muitos e muitos cúmplices e apaniguados desse sistema, até aos bancos alemães, franceses e outros, até às indústrias de armamento alemãs e outras e à Nova Democracia e ao Pasok que, desde há quase quarenta anos têm pactuado com todas essas roubalheiras e infâmias.


Esse tem sido o sistema grego. Será o sistema reformável?


Boa pergunta, boa pergunta que deve ser respondida pelos gregos. Não é assunto para a troika, para os alemães, para a burocracia de Bruxelas.


Os alemães impediram o Papandreou de fazer o referendo de Dezembro e agora vão tentar impedir as eleições gregas de 17 de Junho.


Talvez conseguiam, sabe-se lá! Entretanto, vão atirando achas para a fogueira.


Quem é que pode salvar a união europeia?


Os europeístas? Mas quem é que essa gente?


A gente que em três dias retirou mil e duzentos milhares de euros dos bancos gregos?


As pessoas que têm os seus depósitos em bancos espanhóis ameaçados de falir em cadeia, como um castelo de cartas?


Os alemães, fechados na sua arrogante supremacia de vendedores de submarinos, de piratas predadores capitalistas?


Os europeístas gregos que, segundo o sr. Monteiro, é preciso apoiar e ajudar a convencer o povo e a vencer nas urnas?


A vencer nas urnas contra quem? Contra a extrema esquerda, contra a extrema-direita, contra os coronéis?


Como cantava o Zeca Afonso, o povo é quem mais ordena.


O problema é que nesta altura, a sorte da Europa já não está nas mãos da extrema direita, nem da extrema esquerda, nem dos povos europeus, nem da sra. Merkel.


A sorte da união dita europeia passou a estar nas mãos de quem tem depósitos num banco europeu, seja ele qual for. Os eleitores gregos são a favor do euro, e como são eleitores prevenidos, mais vale ter 100 euros debaixo do colchão do que 1.000 dracmas num banco.


A opção pelo banco-colchão está, pois, de volta à actualidade.


Apesar de velha história, o colchão-banco é que vai resolver o problema do euro, não vale a pena fazer grandes conjecturas, cansar a cabeça.


Em breve, a realidade retomará o seu curso e a maior parte dos políticos europeus será arrumado nos arquivos poeirentos da história. Não salvaram o euro, não salvaram a dita união europeia, apenas desgraçaram a vida de muitos milhões de pessoas


A história, tal como no passado, continuará o seu rumo. Como de costume, por cima de muitos cadáveres.