No essencial, os perigos da espiral de bancarrota europeia têm-se confirmado nestas últimas semanas. A novidade é que tudo está a ser muito mais rápido do que se imaginava.
Em teoria, pode-se analisar isto e aquilo, deduzir, pensar cenários, tudo teoricamente certo, mas depois quando a realidade se começa a revelar, descobrimos que afinal ela é muito mais dramática e pior do que o que tínhamos imaginado.
Nas últimas semanas, o teatro político europeu pôs a nu de maneira cruel o descalabro das fantasias de união europeia.
As fracturas desse descalabro estão expostas, são claramente visíveis para quem quiser ver.
Uma fractura nova, que andava na penumbra e é agora evidente, é a divisão entre países da zona euro e os países que não pertencem a essa zona. São duas europas dissociadas, que supostamente pertencem à mesma união. Dissociação confirmada pela reunião que os ministros dos dez países que estão fora da zona marcaram para amanhã em Bruxelas na embaixada checa.
Acentuou-se, para além de todos os limites imagináveis, a fractura entre o directório germânico-francês que, sem qualquer mandato, concentrou em si todas as decisões e os outros países da tal união. Perfeita antevisão do retrato do que seria a tão propalada europa federalista.
A fractura entre os países do norte e do sul, que é o essencial de todas as fracturas euro-europeias, tornou-se hoje mais clara com a adesão da França ao clube dos países do sul candidatos à falência.
Chegámos àquele ponto em que a geografia dos destinos geo-políticos europeus se tornou clara e as suas fronteiras perfeitamente cristalinas.
Temos os países do norte que mantêm os seus triplos AAA, países que se mantêm excedentários principalmente graças ao euro e aos seus outros parceiros europeus. Enquanto, eles, países do norte, são excedentários, os países do sul são deficitários, logo bancarrota à vista para esses incómodos parceiros.
Quanto aos países do euro destinados à bancarrota e consequentes e merecidas punições, a principal novidade é que, sem esperar pelo desfecho da crise berlusconio-italiana, a França decidiu reforçar esse grupo. La boucle est bouclée.
Há três meses, a França já tinha apresentado um plano de austeridade e um projecto de orçamento baseado em projecções de crescimento económico que se revelaram totalmente irrealistas.
Hoje, o primeiro-ministro Fillon, em tom solene, veio dar conta de um novo plano de austeridade. Como é extraordinária esta monótona sucessão de PECS, de planos de austeridade dos países do sul!
Fillon falou de bancarrota, de rigoeur, de faillite, tudo palavras proibidas no léxico político francês. Estamos a seis meses das eleições presidenciais francesas, por alguma razão o Fillon foi enviado para o matadouro pelo seu patrão Sarkozy. O marido da Carla Bruni – que mal empregada! - quer ganhar as eleições e sabe que as coisas vão estar cada vez mais pretas…
Temos então na amálgama das grandes manobras pelo poder europeu, de um lado, a lista de candidatos à bancarrota alinhados em ordem de partida, não apenas os candidatos já bem conhecidos que são a Grécia, Portugal e a Espanha mas também os outros dois candidatos teoricamente mais improváveis, candidatos de última hora, a Itália berlusconiana e a França sarkozysta.
Do lado oposto, lá estão, aparentemente imperturbáveis a Alemanha e os seus aliados nortistas.
Entre estas duas matilhas, vão rosnando os países que estão fora da zona euro.
Como é que esta gente se vai entender, depois do divórcio do casal franco-alemão?
Há quem insista em querer controlar a Europa, mas os meios para lá chegar tornam-se cada vez mais problemáticos.
Não admira que, para além da agitação e das encenações mediáticas dos principais tenores, prevaleça a sensação de que tudo parece estar a ficar fora de controle, rumo ao inevitável abismo da bancarrota euro-europeia.
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