PEDALAR É PRECISO!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

LA CINA È VICINA


Entre os intelectuais europeus e políticos de tous bords e a China maoista, proletária e comunista, criou-se há muito tempo uma espécie de atracção fatal. É uma velha história que não terminou, pelo contrário, ela tem todo o futuro à sua frente.


Em 1967, o italiano Marco Bellocchio retratou com mão certeira o fascínio dos jovens burgueses em crise de identidade pela revolução cultural maoista. Fora do maoismo, pas de salut, era a mensagem do filme La Cina è Vicina.


Sabe-se o que é que deu esse fascínio pelo exotismo maoista, as Brigate Rosse, mortes, terrorismo, crimes, vítimas inocentes. Foi esse maoismo europeu e burguês fascinado pela grande marcha e os genocídios perpetrados pelo Mao e seus subordinados que assassinou Aldo Moro, político demasiado avançado e demasiado honesto para o seu tempo. Político honestamente burguês, alheio às fantasias exóticas dos jovens das boas famílias italianas.


Será que a China deixou, entretanto, de estar próxima do espírito dos europeus que mandam nesta coisa patética chamada união europeia?


Tivemos a cimeira para salvar o euro, a segunda no espaço de menos de uma semana a qual, aliás, esteve para ser a terceira antes da quarta. Parece que, no ballet dos sombrios bastidores da reunião, tudo se terá decidido entre a meia noite e meia hora de quinta-feira, quando os bancos disseram que não iam aceitar o perdão de 50% da dívida à Grécia e as 4 da matina quando a chanceler Merkel veio anunciar que havia um acordo sobre a dívida grega, a recapitalização dos bancos e a multiplicação do valor do FEEF.


Passadas algumas horas, com os primeiros telejornais e as primeiras edições matinais dos jornais, os mercados e as bolsas entraram em euforia. Quantas fortunas, quantos especuladores felizes?


Capitalismo de casino, aqui estamos e daqui não sairemos tão cedo.


Passadas as primeiras euforias, percebeu-se que, afinal, a parte substancial do acordo da madrugada de Bruxelas depende da China.


Com o futuro do euro e da união europeia na corda bamba na tal de cimeira, à beira do abismo, em desespero de causa e à falta de melhor solução, a Merkel, o Sarkosy e o Barroso imploraram os bons ofícios da China maoista. Aconteceu um milagre da mundialização, da globalização, chamem-lhe o que quiserem.


Milagre da declaração de falência do capitalismo histórico nascido na Europa ocidental.


São os novos amanhãs que cantam. Os amanhãs maoistas, a luta de classes acabou, a democracia é uma fantasia burguesa, os indivíduos não existem, apenas conta o colectivo.


Os amanhãs que nos esperam.


Esta cimeira da salvação do euro foi genial principalmente porque fechou o ciclo das fantasias daqueles que no final dos anos 60 eram jovens burgueses fascinados pela revolução cultural e que agora, chegados à idade de razão e das altas responsabilidades, têm a grata surpresa de poderem confirmar quanto os seus devaneios juvenis estavam certos. Confiavam no pensamento do presidente Mao, descobrem agora que o grande profeta continua a ser o grande líder do futuro.


Os povos europeus, os empregados e os desempregados, os pobres e os remediados agradecem a clarividência dos burocratas neo-capitalistas que tiveram a coragem de permanecer fiéis aos seus ideais de juventude.



1 comentário:

Anónimo disse...

É a realidade nua e crua, uma realidade sem máscara, dito desta forma, até arrepia.

jose antonio