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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ÓDIO AOS POBRES


O Banco Mundial vai fabricando estatísticas, isso está no seu pedigree, há muito que estamos habituados às suas falsificações, manipulações e outras propagandas criminosas. O Banco Mundial é um bando de salafrários, fazem circular as estatísticas que lhes convêm.


O Banco Mundial é o parceiro fraterno do FMI.


Para quem não sabe, compete ao Banco Mundial, de acordo com a divisão e tarefas que as potências do grande capital mundial fixaram já há bastante tempo, tratar em especial do chamado Terceiro Mundo.


Este conceito de terceiro mundo foi inventado por alguém cuja memória muito prezo. Alfred Sauvy, conheci-o, andava de bicicleta em Paris, com a sua boina, sempre optimista e crítico, para mim o Sauvy era uma espécie de Einstein.


Grande impulsionador dos estudos demográficos, economista, espírito aberto, crítico e super lúcido, nos tempos da guerra fria, inventou essa história do terceiro mundo, ou seja, tínhamos o primeiro mundo, o capitalista propriamente dito e, do outro lado, o mundo do socialismo real, estalinista. Logicamente, o terceiro era o mundo dos completamente deserdados, o mundo daqueles que estavam naturalmente destinados a ser as presas fáceis da guerra entre os dois primeiros mundos.


Sauvy, aliás, confessou que na sua ideia, o mundo capitalista poderia ser assimilado à nobreza e o mundo comunista ao clero. O Terceiro Mundo, claro, seria o Terceiro Estado, aquele que, em França, fez a Grande Revolução.


Infelizmente, até hoje, o tal terceiro mundo não fez revolução nenhuma, antes pelo contrário. O Sauvy enganou-se, é pena.


As ex-colónias portuguesas, por exemplo, são um exemplo flagrante do que é ser apanhado no meio da guerra entre os dois mundos e não ter alternativa a não ser submeter-se a um dos contendores. Angola, por exemplo, amargou com a disputa entre USA e URSS, trinta anos de guerra civil, milhares e milhares de mortos e de estropiados.


O terceiro Mundo, a sua vocação tem sido sempre a de ser um mundo de vítimas e continua a liderar o ranking dos mais pobres.


Essa expressão terceiro mundo hoje já não se usa, usam-se outras, países em desenvolvimento, países menos desenvolvidos, é disso que falam as estatísticas oficiais das Nações Unidas.


Mas voltemos ao tal de Banco Mundial.


Periodicamente esta melíflua e subserviente instituição do capital internacional apresenta os seus relatórios. Relatórios supostamente sobre a situação mundial, sobre as economias mais difíceis. Mas o que Banco Mundial invariavelmente nos diz é que, graças ao seu empenhamento, à sua intervenção e aos seus programas, os países muito pobres se vão tornando menos pobres e, assim sendo e graças à sua desinteressada militância, o número de pobres vai diminuindo.


Assim, em 2008, o dito banco veio-nos anunciar que o número de pessoas que vivem abaixo do limiar de extrema pobreza no mundo reduziu-se, entre 1981 e 2005, de 1,9 para 1,4 mil milhões. Quaisquer que sejam os números, a verdade é que são muitos e muito demasiado pobres, cujo limiar de extrema pobreza é fixado em 1,25 dólares americanos por dia e por habitante (como é que se consegue viver com um 1 euro por dia?).


E o tal de Banco Mundial exulta: durante todo esse tempo, pouco mais de vinte anos, a população mundial aumentou e, assim de repente, por artes mágicas, a taxa de pobreza extrema foi reduzida para metade : terá passado de 52 para 26 % da população mundial!


Consulto outras fontes, outros dados também relativos a 2008. Pequeno pormenor a ter em conta neste exercício contabilístico: 2008 é o equivalente ao ano de 1929, é o ano do crash de Wall Street sorteado para o 2º milénio da era cristã. É o ano do nosso crash, aquele que está em curso e que ainda não sabemos como é que vai acabar.


Ora, segundo as Nações Unidas, nesse fatídico ano, haveria nessa altura perto de três mil milhões de homens e de mulheres a viver com menos de 2 dólares por dia, grosso modo, isso quer dizer cerca de cinquenta por cento da população mundial.


Questões inexoravelmente pertinentes que vêm a propósito: qual a diferença entre 1,25 e 2 dólares, qual a diferença entre 50% e 26% de pobres? Ò banco dito Mundial, explica-nos lá estes pormenores?


No ano de 2008, antes do crash, cerca de 8 milhões de crianças morriam de pobreza e 150 milhões de crianças com menos de 5 anos sofriam de má nutrição. Perto de 100 milhões viviam na rua entregues a si próprias, muitas vasculhando provavelmente nos caixotes do lixo ou nas lixeiras, como na Cisjordânia, por exemplo.


Segundo Kofi Annan, que na altura era o secretário-geral da ONU, seriam necessários cerca de 40 mil milhões de dólares por ano para garantir ao exército dos pobres deste mundo o acesso aos serviços sociais de base, tais como, instrução, saúde, alimentação, água e salubridade.


40 mil milhões é um orçamento inferior ao que os europeus gastam em cigarros – não tenho nada contra os cigarros – e, principalmente, é três vezes menos do que aquilo que gastam os países não-industrializados - ressalvemos, que estes países não são os únicos onde há pobres a tentar sobreviver com 1,25 dólares - em despesas militares, Armas, my God, precisam de armas para quê? Para matar os mosquitos?


Temos o corno de África, a Somália, a Etiópia, temos o Afeganistão, temos a Síria, temos o Conselho de Segurança da ONU, temos a corte dos especialistas que se ocupam do exército mundial de pobres, o exército de reserva de mão-de- obra de que falava o Marx. Mão-de-obra pronta para servir o capital internacional, precisam de emprego, precisam de salários.


Temos também o exército mundial dos que lutam por manter o seu emprego, o exército dos que vão sobrevivendo até chegar a vez de, eles próprios, irem vasculhar nos caixotes do lixo ou tratarem de reunir a trouxa e porem-se a caminho.


Crazy world.


A história disto a que chamamos humanidade é uma história de ódio aos pobres.
E daqui não vamos sair.



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