PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

VANTAGENS APARENTES DO PÂNICO EUROPEU



Ainda é cedo para se perceber exactamente o que é que foi decidido hoje em Bruxelas na cimeira da última chance, chamem-lhe o que quiserem.

Parece que a dita cimeira centrou a sua atenção exclusivamente na situação explosiva da Grécia, não se terá falado nem de Portugal nem da Irlanda.
Na realidade, nunca saberemos o que é que lá se passou e, mesmo que alguma vez se saiba, isso não vai servir para nada.

O aparente acordo conseguido hoje em Bruxelas pode ser explicável pelo medo do contágio da crise da dívida soberana à Itália e à Espanha. Esse pânico terá tido algum efeito, porque o pessoal que manda nessa coisa chamada moeda única é gente muito macha mas a certa altura, quando as coisas aquecem a sério, perdem os pedais, lá se vai a coragem. O medo é bom conselheiro.

Deduz-se deste aparente acordo que, da parte alemã, prevaleceu a táctica dois passos atrás um passo à frente e, a seguir, logo se verá.

Ainda na véspera, a Dona Merkel tinha-se dado ao trabalho de nos avisar, não esperem nada de espectacular da cimeira, não vamos resolver nada. Era uma ameaça.

Mas parece que as linhas em que corre o comboio da ditadura financeira alemã foram desviadas para uma espécie de impasse, e nessa emergência, a estratégia de Berlim do quanto pior melhor foi confrontada com o dilema do general quando, na véspera da batalha, se prepara para atacar e percebe que afinal está em desvantagem, e decide levantar o acampamento, mandar os soldados para outra parte e esconder as armas e os canhões.

Terá, pois, havido recuo táctico, a Alemanha não cedeu completamente na cimeira, mas cedeu e no fim parece que toda a gente acabou por sair satisfeita.

Os gregos vão receber uma ajuda de 158 mil milhões de euros durante trinta anos. Mas implicitamente, e a bolsa de Londres encarregou-se de o confirmar, ficou estabelecido que os compadres do Peleponeso estão tecnicamente falidos.

Têm trinta anos para pagar, trinta anos, coitadas das crianças gregas! Mas, os juros, valha-lhes isso, desceram para 3,5%. É uma renegociação da dívida, não há volta a dar.

A Alemanha também levou a dela avante porque, neste segundo plano de salvação da Grécia, os bancos e outros credores privados vão ser obrigados a contribuições substanciais.

A grande e poderosa matilha dos negociantes e engenheiros financeiros especulativos e criminosos vai ter que desembolsar cerca de 135 mil milhões de euros a pagar pelos gregos em 30 anos. Esse pessoal da finança alemã vai ter que dizer adeus a uma parte substancial dos créditos e dos lucros com que andavam a salivar. Vão ter que amargar, perdem hoje, mas recuperam amanhã, não tenham pena deles.

O Sarkosy apareceu no seu papel de que gosta mais, o papel de salvador in extremis, naturalmente pareceu o mais satisfeito deles todos. Sabe-se que o homem é de baixa estatura, que usa saltos altos e, talvez por isso, gosta de se pôr em bicos dos pés.

Do alto da sua importância de presidente francês, que não sei bem qual é, little Sarkosy anunciou que a ajuda da união europeia à Grécia será de 54 mil milhões de euros em três anos (de hoje a 2014).

Anunciou também que vão ser apresentadas pela união europeia antes do fim do Verão, propostas para melhorar a governança da zona euro. E acrescentou – ele e a Merkel é que são os patrões, pelo menos, é isso que ele acredita - : a chanceler Ângela e eu próprio concordámos que era preciso avançar com muita ambição e voluntarismo nas próximas semanas para um novo modelo de governança económica da zona euro.

Mais palavra, menos palavra, foi isso o que o homem disse, explicou que a nossa (deles, casal franco-alemão) ambição é aproveitar a crise grega para fazer um salto qualitativo na governança da zona euro.

Federalismo, moeda única, ditadura única, preparemo-nos!

Saudades dos Filipes espanhóis!

Outros personagens desta tragi-comédia em que se brincam com milhares de milhões, também se mostraram muito satisfeitos.


O Trichet do Banco Central Europeu, que, antes da cimeira, era contra a participação dos privados, saudou a solução encontrada para ajudar a Grécia.


O FMI e a sua nova dirigente, a Christine Lagarde, que Deus a guarde, anunciou que também vai participar no novo plano de ajuda à Grécia.


A banca subiu na bolsa.


Os transportes vão aumentar 15%.


Novas medidas de austeridade estão anunciadas, não se sabe bem quais nem exactamente para quando, mas é questão de semanas, antes do fim do Verão, a limpeza estará completa.


As decisões da cimeira da troika europeia de hoje, 21 de Julho do ano da desgraça de 2011, talvez fiquem na história. Quem sou eu para fazer juízos pré-históricos.


Porém, no imediato, não vejo o que é que tudo isso vai mudar aqui para estes lados do Atlântico ocidental periférico europeu.


Talvez esteja muito simplesmente a ver um daqueles filmes americanos de ficção com muitos efeitos especiais numa galáxia distante, com extra-terrestres que se divertem, que decidem isto e aquilo, faço zapping, olho à volta e continua tudo na mesma.


Talvez consigamos sobreviver. Alá é grande!


Valham-nos a metafísica e as transcendências das longas durações. Daqui a cinquenta anos, tudo isto será muito mais claro. Tarde demais.


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