PEDALAR É PRECISO!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A SUL, NADA DE NOVO


Está marcada para quinta-feira, 21 de Julho, uma cimeira extraordinária dos responsáveis dos governos da união europeia.


O simpático presidente belga da união europeia tinha anunciado esta reunião para a passada 6ª feira, mas a chanceler Merkel prontamente mandou desmarcar. Quem manda, manda.


Não é difícil imaginar o que vão ser os resultados da dita cimeira.
Eles estão anunciados há muito tempo.


A união entre aspas europeia está sob a alçada da hegemonia germânica, nem toda a gente sabe ou aceita isso, mas essa é a realidade, haverá volta a dar? Há, há, mas quem é que toma a iniciativa? A Grécia, a Irlanda, Portugal, a Itália, a Espanha, cada um por si, ou todos juntos? E quem é que toma a iniciativa, os governos colaboracionistas ou os povos inconformistas e indignados?


O puzzle de tudo o que está acontecer neste ano da desgraça de 2011 é muito complexo, nem tudo é preto, nem tudo é branco. Há sintomas de que dentro da própria Alemanha muita coisa está em aberto. A conspiração do capital alemão de tendências imperialistas tem adversários internos.


Helmut Kohl não é um político qualquer, é um personagem histórico cuja visão e coragem deixaram merecida marca. Na história da Alemanha pós-nazi ninguém foi tão longe quanto ele na aproximação a uma Europa próspera e de paz.


Recebeu da união europeia o apoio à sua vontade de reunificar a Alemanha. A Alemanha foi reunificada pela sua vontade, mas sem esse apoio europeu a reunificação teria sido um completo fiasco.


Talvez porque quisesse demonstrar as boas razões da sua insistência em integrar a antiga Alemanha estalinista na Alemanha e na Europa, Kohl promoveu Angela Merkel e fez dela chanceler.


Parece que ontem deu sinais de estar arrependido, mas a questão não é essa.


Eu acredito que na Alemanha existe uma fractura entre aquilo que é o tradicional sector perigosamente fascista da Deustschland über alles e o sector mais identificado e mais preocupado com os valores de uma Europa de paz e de valores universais e de fraternidade e de solidariedade. Mas não sou alemão nem vivo na Alemanha, limito-me a ver os sinais que de lá chegam.


A aparente dissociação do Kohl em relação à sua protegida Merkel é um sinal significativo da fractura inter-germânica que poderá trazer eventuais repercussões positivas sobre a crise europeia e o futuro da Europa.


Gostava de saber o que é que o Joschka Fischer, antigo ministro dos estrangeiros e vice-chanceler do Gerhard Schroder pensa sobre tudo isto. Mas alguém terá criado um manto de silêncio à sua volta ou então, não sei. Fischer sempre foi um genuíno defensor duma Europa solidária, sem hegemonias e sem patrões.


Os nossos jornais deviam dar mais atenção às vozes discordantes dentro do mundo germânico. Talvez seja por preguiça que não o fazem, o pessoal entra às 10, sai às 5, não está para se chatear, fecha o jornal, vai para casa.


Li, entretanto, uma notícia da Lusa, ora aí está, as agências continuam a ter a utilidade de disfarçar a preguiça e incompetência dos jornais, alguém da agência se deu ao trabalho de ler uma entrevista de um responsável alemão do misterioso Fundo Europeu de Estabilização Europeia (FEEF), fundo sobre o qual muito se tem escrito, mas não o suficiente para se perceber para que é que essa coisa vai servir, até agora não serviu para nada.


Em entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, o presidente do FEEF afirmou preto no branco que “Até hoje, só houve ganhos para os alemães, porque recebemos (eles, alemães) juros acima dos refinanciamentos que fizemos e a diferença reverte a favor do orçamento alemão.”


O que este senhor afirmou não é novidade, o que é novidade é que um importante jornal alemão resolva dar voz a um distinto responsável alemão por um fundo europeu, fundo que é suposto prestar socorro aos países periféricos europeus atirados para o caixote do lixo pelas agências de rating, as quais são manipuladas pelos banqueiros alemães. É novidade assinalável que este distinto responsável alemão e europeu tenha a coragem de vir dizer aos alemães, vocês estão a fazer enormes lucros com a crise do euro periférico dos países atirados às feras.


Alguém da Deutscland über alles terá lido com atenção estas palavras do distinto compatriota?


Já aqui foi explicado que, sobre o euro e a união europeia, paira um clima de guerra.


Como em todas guerras, tem que se considerar que existem duas frentes.


A frente invasora está bem organizada, é o exército comandado pelo capitalismo alemão, com os seus funcionários políticos chefiados pela chanceler Merkel, com os seus aliados nórdicos, holandeses, finlandeses, dinamarqueses, suecos, noruegueses.
Estamos perante uma espécie de remake da guerra de secessão americana, norte contra sul.


Só que, a sul, não há chefes, não há estratégia, não há exército. Os políticos desta frente, limitam-se afirmar todos os dias Portugal não é a Grécia, a Espanha não é Portugal, a Itália nem é a Grécia, nem é Portugal, nem é a Espanha.


A França também começa a dizer que não é nenhum desses países, talvez por causa do seu irreprimível fascínio pelo presidente Obama, que há poucos dias veio solenemente garantir que os USA não eram nem a Grécia nem Portugal.


O problema do sul da Europa não é apenas o de não ter aliados dentro da dita “união” europeia.


O problema meridional é ter os políticos que tem.
Políticos sem qualquer peso, sem qualquer estratégia, sem qualquer poder de influência.
Políticos ridículos e amadores. E vou deixar de fora os corruptos.


Gostava de perceber se o doutor Cavaco anda a ouvir vozes, como a Joana d’Arc. Será que Deus lhe segredou ao ouvido que a solução da crise europeia é simples, basta desvalorizar o euro?


Doutor Cavaco, acha que a Alemanha vai aceitar uma moeda mais fraca do que o dólar? A Alemanha está a ganhar todo o dinheiro que lhe apetece, graças, entre outras coisas, ao euro que têm, o euro que é deles.


Desse poder não vão abdicar na próxima reunião de emergência de quinta-feira. Obviamente não vão desvalorizar a moeda dita “única”, nem vão prescindir da sua exigência de meterem os privados no rateio das dívidas soberanas dos países do sul da Europa, todos, incluindo a França.


Doutor Cavaco, recolha-se à sua insignificância e inutilidade. É triste, mas a sua capacidade para representar um país, que está a ser espoliado pelas maquinações dos poderes financeiros que mandam na Europa, não vai além de dar palpites parvos e patéticos para aparecer nos telejornais.


A sul, nada de novo.


Sem comentários: