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sexta-feira, 3 de junho de 2011

REFLEXÃO A PROPÓSITO DE FINS ELEITORAIS

Entrámos no chamado período de reflexão pré-eleitoral. Vamos então tentar reflectir.

Na campanha eleitoral, a melhor parte foi o período pré-eleitoral. Alguns debates na televisão foram úteis e construtivos, uma raridade.

O que é que faltou nesses debates? Faltaram os pequenos partidos. Eu sei que é complicado meter toda a gente a discutir entre telenovelas, mas a falta desses partidos prejudicou o debate. Isto, se admitirmos como essencial que na luta política e nas campanhas eleitorais o mais importante é que os cidadãos tenham a oportunidade de examinar os argumentos de todos os candidatos.

Entre a pré-campanha e a campanha propriamente dita o hiato foi tremendo, não houve qualquer continuidade.

O que é tivemos na campanha propriamente dita? Houve episódios, tricas de comadres, questiúnculas, mas nada de sério foi discutido.

Peço desculpa, tenho que reconhecer que apenas o Francisco Louçã soube prolongar na campanha o que tinha dito nos debates ao insitir na questão determinante para o futuro de Portugal nos próximos anos, que é a da inevatibilidade da renegociação da dívida.

O que é significa isso de renegociar a dívida?

Significa tudo nesta guerra de trincheiras em que se tornou a comunidade europeia e o euro.



A comunidade europeia e o euro, vejo tudo isso como o exército de Napoleão que vai ocupando a Europa, que vai impondo o seu diktat, que chega à Península Ibérica, que chega a Portugal, que chega à Rússia. Sempre com a Inglaterra por perto watching.



Estamos hoje na mesma situação das invasões napoleónicas. Vamos negociar com o invasor? Talvez fosse o mais sensato, mas o invasor não vai aceitar negociar.



Qualquer invasor, por princípio, só aceita capitulações.



Os partidos da troika estão prontos para capitular.



Aceitar o diktat da troika sem resistência, sem renegociar os juros do empréstimo, sem renegociar os prazos, sem renegociar as obrigações que nos são impostas será pura capitulação. Essa foi a posição não explicitamente admitida pelos partidos do “arco do poder”.



Obviamente e essa é a verdade, os partidos da troika estão prontos para capitular.



Estão prontos, querem ser bem vistos em Bruxelas, em Berlim e em Washington, dizem o que é obrigatorio que digam agora, mas daqui a menos de um ano vão querer renegociar.



E vão ter que engolir o que andaram agora a proclamar, vão ter que renegar tudo aquilo que tem sustentado a sua luta eleitoral pelo poder, baseada na ocultação da verdade literal e política que está no memorando da troika.



A campanha eleitoral do triunvirato partidário que quer ocupar o poder andou a esconder a verdade dos sacrifícios e do massacre que nos vão ser impostos.



Escondeu, em particular, a verdade da nossa perda de soberania.



O PCP falou de maneira suave da necessidade de se debater o euro e a soberania nacional. Mas não fez disso cavalo de batalha.



O Louçã colocou a questão da renegociação da dívida, ele é economista e qualquer economista sabe que essa renegociação vai estar na ordem do dia e não vai faltar muito tempo. Mas o Louçã não é o Bloco de Esquerda, é apenas a sua aparência. É a aparência duma alternativa de poder que não existe.



Qualquer economista, por mais monetarista que seja, sabe que Portugal não vai poder pagar a dívida à troika e aos outros credores se não houver criação de riqueza, se não se vencer a recessão.



Qualquer economista que conheça minimamente a história da grande depressão de 1929/1933 sabe que nessa altura quem tinha razão não era o presidente Herbert Hoover, que confiava cegamente na iniciativa privada e no mercado para resolver a crise, mas o novo Presidente Franklin Roosevelt que mobilizou com toda a força a intervenção maciça do Estado para reanimar a economia e o emprego.




Com o guião da troika não vamos lá. É o guião Herbert Hoover, um guião liberal que, por maioria de razões, em Portugal não tem a mínima hipótese de resolver o que quer que seja.



É que em Portugal, infelizmente, todos dependem, todos dependemos do Estado, o Belmiro de Azevedo, o Américo Amorim, o Ricardo Salgado, o Jorge Coelho, o Joaquim, o António, a Maria.



Não temos verdadeiro capitalismo, não temos iniciativa privada, não temos sociedade civil.



Continuamos, continuaremos apenas a ter partidos preocupados em manter, em criar tachos para os amigos.



E, por tudo isso, a campanha eleitoral foi, como diria o Gil Vicente, uma “floresta de enganos”.



Enganados, iludidos e mal pagos.



Mas, reflictam, votem, além dum direito isso é uma obrigação de cidadania (infeliz palavra, faz-me lembrar o Fernando Nobre).



Pela minha parte, no momento da verdade, no silêncio do confessionário da mesa de voto, vou provavelmente decidir votar num desses partidos que não tiveram ocasião nem tempo de antena na televisão para enganar o povo. E votarei conformado com a ilusão de que afinal no meio de todas estas desgraças ainda haverá alguns partidos honestos nas suas convicções e que não mentem.




Dia 6 de Junho, segunda-feira, dia aziago. Triste futuro.



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