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terça-feira, 28 de junho de 2011

ESTRATÉGIA DA ARANHA



Entre Portugal e Grécia nasceu não há muitos anos uma espécie de absurda relação fatal, fatalidade negativa entenda-se.


Nos anos 60, quando começou a moda das estatísticas internacionais, Portugal e a Grécia, nas hierarquias europeias, disputavam entre si o penúltimo lugar em tudo o que tinha a ver com indicadores de progresso e desenvolvimento económico, social, cultural and so on. Nessa luta, muitas vezes intrometia-se também a Turquia.


Os anos foram passando, a Grécia e Portugal entraram para a CEE. Mais tarde entraram também para este clube os náufragos do socialismo real, Polónia, Hungria, checos, eslovacos, estónios… Quanto a Portugal e a Grécia, eles tiveram o privilégio de obter o cartão de sócios do clube mais restrito dos membros da moeda única.


Mas as hierarquias estatísticas não mudaram. Portugal e Grécia continuaram no fundo da tabela.


Isto é muito estranho, porque até há poucos anos, tudo parecia correr no melhor do mundo para estes dois países geograficamente e historicamente opostos.


Em comum, eles têm principalmente o facto de ambos serem europeisticamente falando, países periféricos. A Grécia fica bastante para leste e Portugal é o extremo ocidental do continente a que pertence. Ocidental praia lusitana.


Mas ambos os países tiveram e têm um lugar que nunca poderá ser apagado na história da Europa e da Humanidade. A Grécia fundou o essencial daquilo que é a civilização europeia, Portugal levou essa civilização para sítios muito longínquos por mares nunca dantes navegados.


Na realidade, as afinidades acabam aí. Entre a Grécia e Portugal nunca houve afinidades propriamente ditas. Têm histórias completamente dessincronizadas.
Os gregos foram importantes há dois mil e quinhentos anos e depois foram sofrendo as peripécias de sucessivas vagas colonizadoras, a últimas das quais, mortal, foi a do império otomano.


Portugal teve o seu papel global há quinhentos anos, sofreu uma breve ocupação de três reis estrangeiros na primeira metade do século XVII, mas sempre se manteve independente.


Entre Portugal e a Grécia os pontos de contacto de povo a povo, diria antes, as coincidências são relativamente recentes e completamente acidentais.


Perdemos com os gregos a final daquilo que constituiu a manifestação mais desvairada do novo-riquismo euro-português, estou a falar do euro 2004 de triste memória.


No final dos anos 60, os gregos resolveram também ter a sua ditadura, a ditadura tardia dos coronéis, que, também por coincidência, terminou em 1974, pouco mais de dois meses após o fim da ditadura do Estado Novo português.


Coincidência mais recente, Portugal e Grécia aparecem todos os dias relacionados com a auto-fagia da união europeia que se desfaz e com o fim anunciado da moeda única.


No meio disto tudo, fala-se da Grécia e insiste-se em Portugal. Parece que alguém se deu ao trabalho de tecer uma espécie de fio invisível, entre nós, país de brandos costumes virado para o Atlântico e o grego arquipélago do Mediterrâneo oriental.


Esta tecelagem, porém, não ficará por aqui e, neste bordado de contornos invisíveis, nesta teia, outros cairão inevitavelmente.
E que teia é essa?


É a velha estratégia da aranha, a aranha que, nos seus manejos, aprendeu a arruinar as democracias.


Esta aranha já não se dá ao trabalho de disfarçar o seu nome, chama-se capital financeiro, os seus agentes são conhecidos, os seus interesses também. Mas ninguém faz nada, é o velho espírito de Munich que, uma vez mais, tomou conta da Europa.


Os gregos estão na rua, lutam e não desistem. Os gregos são olhados com arrogância eurocêntrica e considerados pela intelligenzia política e financeira europeia e wallstreetíca como uma espécie de escória sem salvação.


Fala-se da Grécia, falemos de Portugal: onde está a nossa escória?


Estamos no mesmo barco da Grécia (da Itália, da Espanha…). Vamos ficar à espera que passe o tornado?


Quarta-feira se saberá se o parlamento grego se submete ao diktat do eixo Berlim-Bruxelas.


Mas, entretanto, a rua grega já manifestou o que é que pensa sobre esse diktat.


Diktat, palavra alemã sinónimo de ditadura.


Há uma ditadura, um espectro, que paira sobre os povos europeus. Principalmente, sobre os povos europeus do sul.


Hoje, a Grécia é apenas uma abstracção para maioria dos europeus.


Mas, não faltará muito, talvez, a Grécia passe a ser um problema bem mais sério.
O parlamento grego não resolverá nenhum problema. Nem o da Grécia, nem o da Europa.


Porque o problema da Europa é o mesmo da Grécia. Chama-se ditadura.


Pode ser ditadura de coronéis ou de generais ou de sargentos. O nome dos lacaios não interessa para o caso.


O patrão desses lacaios chama-se capital financeiro, tem estratégia própria, tem serviços secretos, tem exércitos, polícias, tem administrações, burocratas. Ninguém controla esses aparelhos do diktat financeiro.


A união Europeia tem sido uma verdadeira fábrica de ilusões.


As leis da união são perfeitas, as instituições da união são omniscientes, a tudo dão resposta.


Disseram-nos em 2008 que os países do euro estavam protegidos contra a vaga de falências anunciada pela maior falência da história americana, a do Lehman Brothers. O que resta dessas promessas está à vista.


Disseram-nos que, graças à união europeia, as guerras e as ditaduras tinham acabado. On verra la suite.


Os dias dum paraíso anunciado. Bye, bye European Union, cada um por si e logo se vê. Alá é grande!


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