PEDALAR É PRECISO!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ENTRE NOVA GERAÇÃO E BRIGADA DO REUMÁTICO



Terminaram as eleições, sabemos quem são os vencedores e os vencidos, temos a democracia, ainda bem, the show must go on.


Se considerarmos o estado a que o país chegou e também a dimensão da derrota da chamada esquerda, é inevitável que a política portuguesa entre numa fase patética com umas pessoas conhecidas por isto ou por aquilo a aparecerem com vontade de falarem acerca do que lhes vai na alma. Uma espécie de happening político.


O meu sentimento é que o efeito dessas dispensáveis confissões é quase pornográfico.


Tendo acabado felizmente o consulado socrático, uns tantos personagens aparecem à procura de autor.


Mas, por detrás desta procura, o que vejo são problemas que têm a ver principalmente com uma difícil substituição de gerações.


Esta substituição é um fenómeno biologicamente inevitável, com repercussões sociológicas, psicológicas, históricas, and so on. Mas, os seus resultados raramente são previsíveis.


A maior parte das gerações passam, a maior parte não passam à história, pelo que naturalmente nunca mais se ouve falar delas. Infelizmente, foi isso que aconteceu em Portugal durante cerca de quarenta anos.


A geração de 1870, a do Antero e das Conferências do Casino, deixou marcas que nunca serão apagadas. Cem anos depois veio a geração que deitou o Estado Novo abaixo. Também esta geração não será esquecida.


Para sermos rigorosos, a geração do 25 de Abril é a que nasceu na década de 1940 e que, por coincidência que é preciso ter presente neste período pós-eleitoral, chegou agora à idade da reforma. É triste para as gerações que vão sendo substituídas, mas o tempo não perdoa.


Sejamos ainda mais rigorosos, quando falamos de gerações, estamos a falar de médias, apenas de médias. Médias que ocultam diferenças entre este e aquele, entre uns que fizeram umas coisas e outros que fizeram o seu contrário.


Não nos deixemos perder por entre aritméticas.


Médias aritméticas que colocam no mesmo plano, por exemplo, o cidadão Ernesto Melo Antunes, ideólogo do 25 de Abril e o cidadão Aníbal Cavaco Silva que do 25 de Abril nunca percebeu patavina, o que não admira. É que quando era preciso, não mexeu um dedo para que qualquer coisa de novo acontecesse.


Consideremos outro aspecto dessas aritméticas.


Ana Gomes aritmeticamente não pertence à geração a que me estou a referir. Mas pertence-lhe politicamente. É mais nova, tem currículo e isso não é de somenos. Nos idos do PREC, andou pelo MRPP, não sei se participou na meritória confecção dos grandes murais revolucionários que alegravam a cidade de Lisboa.


Pelas minhas contas, ela pertence à média geracional desses jovens pintores de murais, da qual o mais conhecido é actualmente o chefe da comissão europeia.


Na história da psicologia experimental há duas figuras famosas, Pavlov e o seu cão. Desse feliz encontro nasceu a teoria dos reflexos condicionados.


Não sei se as declarações que Ana Gomes proferiu recentemente sobre o Paulo Portas têm alguma coisa a ver com essa teoria. Mas presumo que possa haver aí qualquer coisa de geracional, se bem que ela e o Paulo Portas pertencem mais coisa menos coisa à mesma geração. O que sei, e esse é o meu sentimento pessoal, é que a minha simpatia por Ana Gomes, que sempre admirei pela sua combatividade e coragem, se desvaneceu exponencialmente e isso chateia-me. Mais uma decepção a acrescentar ao meu currículo de decepções.


Ò Ana Gomes, estamos no mais antigo país da Europa, não estamos nos USA. Em política com P grande, malgré Maquiavel, nem tudo é permitido.


Como se não me bastasse este lamentável episódio, hoje, na minha qualidade de episódico espectador de canais de notícias, tive direito à lamentável prestação dum personagem, o sr. general Pezarat, que é dos tempos do PREC e que na televisão veio também acusar o Paulo Portas. Acusou-o de ter mentido ao povo português a propósito das armas de destruição maciça do Iraque. A que acrescentou a mesma conclusão da Ana Gomes, o Portas não é idóneo, não pode pertencer ao novo governo português.


Are you crazy?


Onde é que estavam na campanha eleitoral? A campanha acabou. Se querem insistir, escrevam um livro, contem tudo, convençam-nos.


Quem é que representam? Têm alternativas à troika, ao descalabro da(s) esquerda(s), têm alternativas para resolver as desgraças do povo português, as desgraças desgraçadas de um milhão de desempregados e das suas famílias?


Se não têm nada de novo para dizer, ou calcem as pantufas, não se ponham em bicos de pés, sejam honestos, ou preparem-se para a luta política de maneira séria.


Doravante, acabou-se a brincadeira.


Idêntico recado para o Doutor Cavaco.


Este doutor é da mesma geração do general Pezarat, o doutor é de direita o general será de esquerda, se é que ambas as etiquetas querem dizer alguma coisa nestes tempos que correm. O doutor não teve nada a ver com o 250474, o outro teve o mérito de estar lá, teve o seu papel.


O doutor é presidente desta desgraçada república e, antes disso, foi seu primeiro-ministro durante 10 anos.


Agora que é o “supremo magistrado da nação”, designação que muito o deve envaidecer, o Doutor Cavaco descobriu as virtudes e os méritos da agricultura. Confiou-nos esse seu estado de alma no discurso que proferiu em soleníssimo momento na capital do distrito mais envelhecido de Portugal, no passado dia 10 de Junho, dia, que, não ainda há muito tempo, designou como o dia da raça.


O doutor Cavaco confessou-nos a sua nostalgia da agricultura e acho isso muito comovente. Certamente, nostalgia dos seus tempos de infância, na recuada época em que ainda não se imaginava nas funções a que os deuses se dignaram elevá-lo.


As memórias da infância podem levar-nos a perder o sentido da realidade e a memória dos factos. É o problema do prazo de validade das gerações, a memória é cruel, atraiçoa-nos.


No seu quase poético devaneio, o actual presidente desta actualmente falida república confundiu a realidade dos factos históricos. É que se esqueceu de referir que foi exactamente no seu consulado de primeiro-ministro, quando era o deslumbrado bon élève da CEE, que a agricultura e as pescas foram destruídas em Portugal.


Implacavelmente e definitivamente destruídas para gáudio e proveito das agriculturas dos “parceiros” europeus que agora nos estão a empurrar para a bancarrota e que lançam boatos sobre as bactérias disseminadas nos nossos pepinos. E para desgraça de várias gerações de infelizes agricultores e de pescadores que foram obrigados a descobrir outros caminhos para sobreviver.


Muitos terão conseguido sobreviver, não tiveram outro remédio, lá se desenrascaram.


O país é que não parece estar a caminho de sobreviver, estou a pensar principalmente nos dois terços de território português que vão a caminho do mortal sono da desertificação.


De bons sentimentos, está o inferno cheio.


Bons sentimentos que vêm à tona nesta imperscrutável mudança de ciclo político.

Tudo isto me faz pensar naquela cena da brigada do reumático, a brigada dos generais vacilantes nas suas bengalas que foram a S. Bento prestar vassalagem ao Marcelo Caetano, creio que foi, mais dias menos dia, em Dezembro de 1973.


O tempo vai passando. Mais geração, menos geração, resta-nos perguntar o que é haverá de novo na frente ocidental?



Sem comentários: