PEDALAR É PRECISO!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

BIN LADEN E A SUA MORTE PÓSTUMA



A cerimónia fúnebre em alto mar, segundo ritos muçulmanos adaptados pela special force da CIA às conveniências estratégias americanas, terá acontecido ao largo do Paquistão. Essa é a versão oficial para consumo popular.






A partir da plataforma dum porta-aviões, o Bin Laden foi enviado borda fora, acompanhado dum contra-peso qualquer. Autrement, sem o dito acompanhamento, pela força da lei de Arquimedes, o corpo começaria a flutuar e a ganhar gosto à viagem marítima vogando como um surfista louco, sabe-se lá, direito ao golfo de Aden.


A verdadeira verdade da história desta cerimónia fúnebre marítima é que ela ficará sepultada por muitos e muitos anos não no fundo do mar mas nos arquivos da CIA.


Pela minha parte, sinceramente, ò Bin Laden, digo-te com toda a sinceridade, tu cá tu lá, quem com ferros mata com ferros morre, e tu és um bom exemplo da justiça desse refrão popular. Paz à tua alma, falo de alma mas é apenas uma maneira de falar.


Digamos, então, paz à tua alma, mas guerra aos fanáticos assassinos, e não és o primeiro nem serás o último, que vêm a este mundo para matar e torturar vítimas que, por definição, são inocentes.


As televisões do planeta ficaram histéricas com a notícia e, apesar dos poucos pormenores quanto ao ataque à vivenda paquistanesa onde pernoitava o líder saudita, deram à notícia mais de uma hora de horário nobre, até o FMI foi parar às sínteses do dia nos alinhamentos das estações indígenas.


Os telejornais são uma fonte inesgotável que nos confirma a toda a hora as conveniências das limitações da inteligência humana.



Tivemos direito a opiniões de ministros e comentadores e a reacções mais ou menos autorizadas. Foram recordadas as matanças da Al Kaeda e colocaram-se algumas questões quanto ao terrorismo “transnacional” e ao seu futuro, agora que o líder islamita afundou no mar alto.

Falou-se do seu provável sucessor, perguntou-se o que é que vai acontecer com a Al Kaeda, vai haver mais atentados, mais terrorismo, mais terroristas, mais vítimas?


A inteligência mediática é limitada, é lenta, resta saber se tudo isso é por falta de inteligência.


É que ninguém se dá à coragem de explicar sem papas na língua o que é isso da Al Kaeda e quais as origens do extremismo muçulmano, ninguém se dá ao trabalho de nos dizer de onde é que isso vem. Tudo boa gente que adora o obviamente correcto.


A genealogia desses extremismos é muito antiga, mas não vamos falar das cruzadas.
Falemos de coisas mais recentes.


Bin-Laden foi apoiado pelos USA nos seus tempos de aprendiz de taliban na guerra do Afeganistão contra os soviéticos. Defendia então os interesses dos ditos USA, objectivamente é disso que se tratava.


Tal como o Saddam Hussein quando fazia a guerra ao Irão com armas enviadas pelos USA.



Tal como os reis da Arábia Saudita, onde o sr. Bin Laden nasceu em berço de ouro, que sempre defenderam o tio Sam.


A genealogia dos extremismos al-kaédicos nasce e cresce com o poder de todos os regimes árabes cujos potentados têm vivido na opulência dos petro-dólares.


Vem desses regimes despóticos criados e apoiados pelos americanos e seus aliados israelitas e ocidentais, regimes-vampiros que se têm alimentado da miséria, da humilhação e da opressão de gerações e gerações de árabes, egípcios, tunisinos, sírios, palestinianos, yemenitas, marroquinos, mauritanos, afegãos, paquistaneses, líbios, and so on.

Não é exagero afirmar, e meço bem as palavras, a Al-Kaeda é uma criação dos USA, dos regimes árabes seus protegidos e dos seus aliados israelitas e ocidentais.


E acrescento, a morte do Bin Laden não passa duma morte póstuma.



É que o anúncio da morte da Al-Kaeda já começou há alguns meses, nas ruas de Tunis e na praça Trahir do Cairo e essa morte vai prosseguir por entre as fronteiras pós-coloniais e os destroços dos regimes autocráticos da Síria, da Líbia, do Sudão, do Yémen and so on.


E quando a Al Kaeda estiver definitivamente morta e enterrada, os povos e as democracias árabes não se darão ao trabalho de organizar cerimónias fúnebres no alto mar para os Kadhafi, os Bashar Al-Assad, os Ben Ali,os Ahmadinejad, os Karzai, os Hosni Mubarak, os Ali Abdalah Saleh, os Omar Hassan al-Bashir.


A CIA e os americanos poderão então ir pregar para outra freguesia.


Sem comentários: