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segunda-feira, 18 de abril de 2011

DEUS E O CAPITALISMO




Há perguntas que, por mais extemporâneas que possam parecer, quando somos confrontados com certos factos e circunstâncias, não podemos deixar de as colocar.

Será que foi Deus quem inventou o capitalismo? E, se foi Deus que o inventou, segunda questão, o que é Deus previu quanto ao desenrolar do seu certamente longo processo temporal de criação, expansão, refluxo e extinção?

Qualquer que tenha sido o seu inventor, é sabido que o capitalismo foi inventado num lugar da Europa.

Não foi em Portugal. Se bem que os nossos navegadores tenham preparado o terreno, D. Manuel I, chamado de venturoso, expulsou a elite portuguesa de Judeus portugueses lá mais para norte, perdoem-me o insulto, o homem era uma besta, estragou tudo.

É que, justamente, o capitalismo nasceu mais para norte, a geografia histórica desse parto está perfeitamente esclarecida.

Admitamos então, quanto ao capitalismo, a autoria divina. Criação divina, donc. A partir dos sete dias bíblicos, a história da criatura tornou-se muito acidentada e paradoxal.

A certa altura, Deus decidiu na sua infinita sabedoria, provavelmente contra a opinião unânime dos seus assessores, exportar a criatura para países oficialmente anti-capitalistas.

Grande é a força de Deus e, assim sendo, o capitalismo lá chegou em grande clima de sucesso à China, conquistou as máfias russas e o ex-KGB da ex-União Soviética e agora muito provavelmente prepara-se para se instalar em Cuba.

Nunca, como acontece a propósito desta história, terá sido tão verdade afirmar-se que os desígnios de Deus são misteriosos e insondáveis.

Mas a questão do destino dos países antigamente comunistas convertidos ao capitalismo, essa não é a questão que me preocupa neste momento, je m’en fous pas mal.

O que gostava de perceber é muito mais simples. Se foi de facto Deus que inventou o capitalismo, o que é que vai fazer com o dito cujo daqui para frente, que destino é que Deus reserva ao monstro por si criado? Mais especificamente, que futuro é que a mente divina reserva à criatura no seu continente natal?

Perguntará o leitor, mas a que propósito é que Deus é para aqui chamado?

Peço desculpa, não fui eu que o chamei. É que outras pessoas muito mais ilustres, pessoas, que não é o meu caso, que estão ligadas à Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, mais concretamente duas dessas pessoas referiram-se publicamente nos últimos dias, em tom muito crítico, ao capitalismo.

Ontem, não foi só eu quem ouviu, o Cardeal Patriarca de Lisboa e de Portugal apontou na televisão um dedo tremendamente acusatório ao capitalismo selvagem. Mais palavra, menos palavra, hoje coube a vez ao Doutor Freitas do Amaral, distinto professor catedrático e principalmente fundador em Portugal dum partido afecto à democracia cristã, proferir acusações do mesmo teor.

Nenhuma destas personalidades é luterana, e isso não me admira.

É que, a haver uma relação de progenitura entre Deus e o Capitalismo, nessa relação o pai será sempre o Deus protestante e nunca o Deus católico. A razão é conhecida, capitalismo rima com ética protestante, capitalismo não rima com ética católica, Max Weber dixit.

Estaremos então, pergunto eu, estaremos perante um ajuste de contas histórico, histórico entre os históricos, entre as duas grandes correntes de pensamento dominantes desde há muitos séculos na história da Europa e não só?

Presume-se, e é o mais rovável, que se possa tratar de um ajuste de contas intra-europeu entre o norte próspero, arrogante, rico e protestante e o sul falido, vencido, pobre e católico.

My God, que guerra desigual!

Já que estamos em terrenos de religião, tenhamos alguma esperança, nunca se sabe, pode ser que essa guerra acabe por ser uma espécie de guerra entre Golias e David.

Como é público e notório, no confronto entre esses dois personagens bíblicos, quem ganhou foi o David.

Contra-argumento, isso passou-se noutra época. O David era então um jovem muito ágil, inteligente e astuto, um jovem muito atrevido, um jovem com todo o futuro à sua frente.

Não me parece que isso se possa repetir, não tem nada a ver com o patético episódio guerreiro que opõe agora os decadentes países mediterrânicos situados no lado pig da Europa aos verdadeiros europeus, aos europeus do norte, finlandeses, nórdicos, alemães, esses sim, verdadeiros campeões europeus do capital.

Capitalistas em versão original, vitaminados with the original God on their side.

O desfecho está à vista, vamos acabar esmagados, sem tempo para perceber o que é que vai passar a seguir.

O mais provável é que se trate de uma nova nova guerra dos cem anos e que muitos dos soldados rasos apanhados em batalha não tenham oportunidade para conhecer os próximos episódios desta sádica história bíblico-capitalista.






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