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quarta-feira, 30 de março de 2011

ELIZABETH TAYLOR









Penso, talvez a despropósito, no livro de Robert Brasillach “Comme le temps passe ». Publicou-o em 1937 e foi fuzilado em 6 de Fevereiro de 1945, por colaboracionismo com os nazis que ocuparam a França.


Era um grande escritor, sabia muito de cinema e admirava em particular o cinema japonês. Do tempo que foi o seu da sua vida deixou um rasto trágico, não apenas para ele.

O tempo passa, o tempo é como um tsunami, por onde passa pouco fica, pouco resta, mas por vezes alguém fica de pé para além desse movimento de tempo. Vai-se subindo a encosta, chega-se lá acima, desce-se e tudo recomeça. Camus, Le mythe de Sisyphe.


Mas, entretanto, passou o tempo tsunami.


Vamos acumulando memórias na nossa cabeça, vão-se acumulando memórias para a história e vão sobrevivendo rastos de algumas estrelas que iluminaram e que continuarão a iluminar a vida de muita gente por muitos e muitos tempos. Não estou a pensar nem em santos nem em deuses nem em mártires, nem em heróis. Existem catálogos inteiros disso, não tenho nada contra.


Estou a pensar em estrelas de verdade, estrelas que não exigem nada em troca, nem sacrifícios nem preces nem doações ou pagamento de bulas.

Estrelas de celulóide, reais, reais pela humanidade que nos revelaram. Mas essas estrelas em que estou a pensar têm também uma “dimensão religiosa”. Espero não me enganar, mas foi o Roland Barthes quem pela primeira vez utilizou essa expressão a propósito das stars de Holywood.

O que me leva a Elizabeth Taylor, a estrela mais luminosa e mais humana de todas as stars. Taylor não morreu, porque em vida criou a sua própria lenda. Taylor não é e nunca será uma estrela mártir como James Dean, nunca precisou nem vai precisar de liturgias de tipo religioso.

Taylor e Dean entraram ambos no Gigante de George Stevens. Foi o último filme de Dean, que alucinou definitivamente no seu porsche a alta velocidade e, por isso, não chegou a tempo de ver o filme. Filme grandiloquente, com algumas ideias que podiam ter sido fortes mas que se perdem em dilemas puramente formais, o dilema entre a tradição das grandes pradarias dos cow-boys e o novo maná americano chamado petróleo, o dilema entre racismo anti-mexicano e o paternalismo bien-pensant em relação aos pobres excluídos sem direitos.

Neste melting pot do Gigante é notório que apenas se salva Elizabeth Taylor.

Alguém poderá apontar um exemplo de qualquer outro filme que não tenha sido salvo por Taylor? Felizmente há exemplos disso. Penso em três filmes que não foram salvos apenas por Elizabeth Taylor, mas nenhum deles inclui Richard Burton, perdoem-me os fãs desse expoente típico do british actor de outros tempos. Na minha memória de cinéfilo ficam como os melhores filmes de Taylor aqueles que ela teve a oportunidade de partilhar com essa outra estrela extra-terrestre chamada Montgomery Clift: Um lugar ao Sol de Stevens (1951), A Árvore da Vida de Dmytryk (1957) e De repente no Verão passado de Mankiewicz(1959).



Não se trata de um pequeno legado.


Raramente o cinema conseguiu voar tão alto no seu esplendor de sétima arte e também tão próximo da proximidade aos sentimentos do ser humano.


Estes e outros filmes de Elizabeth Taylor resistirão a todos os tsunamis do tempo. E ela sobreviverá incólume no tempo indeterminado que lhe está reservado, aquele muito privilegiado tempo estelar que exclui supernovas.