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quinta-feira, 18 de junho de 2009

OS ROMENOS



Os europeus têm dificuldades óbvias - serão só dificuldades? - em lidar com os romenos. Será culpa dos romenos?

Apesar de pertencerem à Comunidade Europeia, os romenos são considerados como párias perigosos, são maltratados e perseguidos, particularmente em Itália, onde o condottieri Berlusconi acirra os baixos instintos contra os imigrantes e principalmente, vá-se lá saber porquê, contra os romenos.

Em matéria de xenofobia, de racismo e de violência cega nunca sabemos o que é que nos pode acontecer. Nunca poderei esquecer o que sucedeu há já alguns anos com dois portugueses que caminhavam junto ao Sena em Paris, creio que era perto da ponte de Tolbiac. Quando um grupo de arruaceiros franceses racistas os começou a perseguir, provavelmente por julgarem que eram dois indefesos norte-africanos, os desgraçados portugueses em pânico atiraram-se ao rio. Não escaparam. Deu notícia de jornal mas ficou por aí.


Em Belfast, grupos de racistas, aparentemente jovens, da Irlanda do Norte têm-se divertido nos últimos dias a atacar trabalhadores romenos e as suas famílias, incluindo crianças. Ainda não há muito tempo no mesmo sítio aconteceram idênticas cenas de violência xenófoba contra portugueses.


A xenofobia e as violências contra imigrantes são o pão nosso de cada dia na Europa, em muitos países. Em França a pátria dos direitos humanos, por exemplo, alguém que abrigue ou ajude um imigrante clandestino pode ser perseguido pela justiça. C’est ça l’Europe, Monsieur Sarkozy?

Os europeus que hoje perseguem, exploram vergonhosamente e maltratam muitos imigrantes, provavelmente daqui a 30 anos os seus filhos vão ter que ir de chapéu na mão pedir aos jovens de outros continentes que venham para cá trabalhar.


Mas quando vejo na televisão os romenos que vão trabalhar para as vindimas no Douro ou quando me cruzo com eles a vender o Borda d’Água junto aos semáforos e a pedirem uma moeda batendo nos vidros fechados dos carros, constato que estou a ser demasiado optimista e que nunca será feita justiça aos descendentes nem dos romenos, nem dos africanos, nem dos ucranianos, nem dos portugueses que a imigração torna vítimas indefesas das piores tropelias racistas e xenófobas.

O que é que sabemos dos romenos?



Habitado pelos antigos dácios, o actual território da Roménia foi conquistado em 106 pelo imperador romano Trajano. Os dácios converteram-se então à força ao império romano, adoptaram a língua latina e tornaram-se romenos. Agora, como se sabe, são os bem amados de cidadãos romanos adeptos do sr. Berlusconi…


É uma longa história, a história romena, os episódios mais recentes são a fundação do Reino da Roménia em 1878, a anexação soviética no final da 2ª guerra e consequente ditadura de Ceausescu e o fim trágico deste psicopata e da sua mulher Elena.


A maior parte dos romenos vive na Roménia, mas muitos outros vivem em muitos países, na Europa ou na América. No total serão cerca de 24 milhões, uma parte dos quais são os chamados romenos étnicos, ou seja, gente que fala a língua romena mas que não tem a respectiva nacionalidade. E, assim, muitos são de facto apátridas sem protecção.



Grosso modo é isto que sei sobre os romenos. É um povo latino e, por isso, sinto naturalmente uma certa empatia com eles.


É também um povo com grandes tradições culturais e de artistas notáveis e a minha empatia cresce.



Penso no Mircea Eliade, filósofo, historiador, antropólogo, cidadão do mundo que a certa altura viveu em Portugal, espírito inquieto, genial.

Penso na pequena Nadia Comaneci genial ginasta.


Penso principalmente na música e nos grandes intérpretes romenos, George Enescu, o grande compositor e violinista, e nos grandes pianistas Clara Haskil, Dinu Lipatti e Radu Lupu.




Dinu Lipatti era neto de George Enesco, teve uma vida trágica e breve. Morreu em Genebra de leucemia aos 33 anos, tempo mesmo assim suficiente para ser considerado por muita gente que percebe do assunto como o maior pianista do século XX.


Clara Haskil, judia romena foi considerada no seu tempo o grande intérprete de Mozart. Teve uma vida triste, doente, pobre, morreu em 1960 numa estúpida queda quando descia de um comboio na estação de Bruxelas, onde se devia apresentar no dia seguinte num concerto com o grande violinista Arthur Grumiaux.


Radu Lupu, grande intérprete especialmente conotado com as obras de Schubert, é hoje um dos mais iluminados pianistas deste mundo.


Romenos ilustres, imigrantes mas reconhecidos no seu génio. E os outros, romenos nómadas, romenos párias, romenos pobres, perseguidos, será culpa deles? Haverá justiça para gente perseguida na Irlanda do Norte, em Itália, em…?









1 comentário:

Unknown disse...

Muitas pessoas que vivem na ingorância pensam que os romenos são um povo slavo, provavelmente por caúsa da posição perto da Russia.
E não só isso, eu estive encontrando policiais, funcionários de banca, managers de empresas prestigiosas que não sabiam nem sequer que a Roménia faz parte da União Europeia, ainda mais que tem raizes latinas. Os romenos, como os outros povos também, trouxeram muitos benefícios ao enrequecimento deste mundo, mas as pessoas, como sempre, só vêem as coisas más num povo, caracterizando-os a partir dos estereótipos. É uma vergonha que ainda não estamos prontos e abertos para viver na diversidade.